ALETHEIA

Pseudomoralismo, religiosidade e outros transtornos

Um caso que recentemente veio à público e chocou o país foi o da criança de dez anos que era estuprada pelo tio desde os seis, no Estado do Espirito Santo. Grávida do próprio tio, a menina conseguiu liberdade jurídica para interromper essa gravidez. Para espantar ainda mais, o acusado denunciou o avó e outro tio da menina, deixando subentendido que o estupro era coletivo e de longa data. Mas como de praxe, esse caso despertou no Brasil a revolta coletiva perante o estupro, mas também o falso moralismo sobre o aborto. E sobre isso, dirige-se esse artigo.

O pseudomoralismo no Brasil é de longa data, mas com as redes sociais ele tem se potencializado e vem sendo posto cada vez mais à tona. Veja bem, quando um homem defende a liberdade para ter uma arma sob a justificativa de autodefesa, mas ao mesmo tempo é contra a legalização do aborto, ele não está interessado no princípio da liberdade em si, mas sim a usa como um meio para se alcançar o porte de arma. Entende como, mesmo que distantes, esses assuntos mostram a face do pseudomoralismo do brasileiro médio, que se auto denomina “conservador”? Ele não ama a liberdade individual assegurada pelo Estado. Ele ama apenas a sua própria liberdade, e luta para que ela seja alcançada.

Se aborto é questão de saúde pública, ao pseudoconservador, tanto faz. Ele não está interessado na liberdade individual, mas sim na sua própria liberdade. Se ele for homem, o pseudoconservador não tem o porquê se preocupar com essa questão. Torna-se secundário, supérfluo, pensar sobre esse assunto. E é ai que vem o falso moralismo com embasamento bíblico.

A mesma bíblia que condena a bruxaria com a fogueira, vide o Êxodo, é a mesma bíblia que, posteriormente, evolui ao tempo da Graça e prega o amor de Deus e seu propósito de Redenção. Entretanto, o que vemos atualmente é uma parcela de pseudocristãos usando de trechos desconexos para justificar o não aborto. No que condiz ao caso da menina de dez anos, citada anteriormente, esses foram capazes de interditar hospitais sob gritos de “assassina” à vítima. Não sabem eles que o próprio Cristo disse “Dai a Cesar o que é de César e a Deus o que é de Deus”? O próprio Apóstolo Paulo defende a importância da obediência à lei em suas cartas. Logo, se o aborto é legalizado na lei nos casos de estupro, a tentativa de ataque ao procedimento, com “argumentos bíblicos”, é infundada e, portanto, fútil.

Por fim, é lamentável que vivamos em um país que julga mais o aborto amparado por lei do que o caso do estupro. Não é à toa que os níveis de desenvolvimento do Brasil apontam para a mediocridade. Enquanto o brasileiro não buscar conhecimento para deixar de ser um mero “pseudo”, estaremos fadados a ser uma sociedade subdesenvolvida, arcaica e bárbara.

Matheus Augusto

Matheus Augusto da Cruz, acadêmico de medicina da Unidep, dono das páginas Aletheia, no Facebook e @apriorialetheia, no Instagram