ALETHEIA
Mais do que um “meme”, a hipocrisia é real.
Um hipócrita, via de regra, é alguém que vomita moralismos mas que de alguma forma não os cumpre. Ele é ousado: denuncia as podridões dos arredores e mantem-se firme em sua bolha de pureza. Alvo de repreensão até na Bíblia – com o fariseu que hora em pé, por exemplo – o hipócrita mais do que nunca ganha força por conta das redes sociais. A hipocrisia, mais do que um mero “meme”, reina na contemporaneidade.
Vejo que as redes sociais revolucionaram os aspectos de comunicação. Antes da internet, não seria possível fenômenos como o Black Lives Matter, que recentemente repercutiu com a morte de George Floyd. Não seria possível, em outra época, protestar com tamanha magnitude, em tantos locais distintos, em tão pouco tempo. Nesse aspecto, as redes sociais potencializaram beneficamente a comunicação. Mas nem só de flores a natureza é marcada.
Junto da potencialização da comunicação, surge a potencialização do fenômeno da “cultura do cancelamento”. Esse fenômeno é marcado pela difamação, acusação e linchamento moral a certas empresas ou figuras públicas que, por azar, desafiaram o politicamente correto na época errada. O mais recente de todos os cancelamentos foi com a empresa Natura, que figurou sua propaganda para o dia dos pais com Thammy Miranda, um homem trans. Curiosamente, o cancelamento e boicote da empresa por boa parte da ala ultra-conservadora brasileira em nada resultou, ou melhor, desembocou em um efeito reverso – até porque as ações da Natura valorizaram com a repercussão.
Outro exemplo, agora da ala ultra-progessista, foi a da tentativa de “cancelamento” da figura estadunidense Dan Bilzerian, um milionário jogador de pôquer que ficou mundialmente conhecido na internet por seu estilo extravagante de vida, rodeado de mulheres, festas e muito dinheiro. A queixa da vez foi a objetificação da mulher, que, convenhamos, não é difícil de perceber na vida desse homem. Aqui no Brasil, entretanto, pôde-se ver figuras públicas bastante controversas atuando em prol desse cancelamento coletivo. E veja bem, a causa desse cancelamento é até compreensível. O problema é que uma parcela significativa dos que reclamaram dessa usurpação do “homem branco capitalista”, é a mesma que em seu meio de lazer utiliza e propaga artigos de depravação à mulher, como músicas com letras erotizadas, por exemplo.
É ai que percebe-se como a cultura do cancelamento é muitas vezes hipócrita e infundada. Acho, via de regra, que essa onda comportamental veio em resposta à apreciação que o ser humano tem pela discórdia como espetáculo. Se não fosse assim, não haveria Coliseu na Roma Antiga, com a selvageria espetacularizada. Muito menos a difamação gratuita e hipócrita que faz espetáculo nas redes atualmente.