FITA CASSETE

FITA CASSETE
(Luiz Silva)

Foi agora a pouco, enquanto bagunçava diferente minhas coisas aqui. Vi o quanto passado e presente estão muito próximos. Pelo menos no meu pequeno universo.
Enquanto baixava algumas músicas no meu netbook, encontrei uma fita cassete. Pus pra rodar. Ouvi Skank com a música “Resposta”. Isso me fez lembrar uma fase da minha vida, quando eu estava no ensino médio. Faz alguns anos. Ouvir música em CD ou em fita cassete, representava também, a classe social. Foi nesse ano que conheci Patrícia. Impossível não lembrar dela! ` Enquanto os colegas já ouviam CD, Patrícia e eu, ainda ouvíamos cassete. Como era bom chegar à escola pela manhã e abraçar a Pati, que é como eu carinhosamente a chamava.
Nessa época, ouvíamos Jota Quest cantando “Será que todo o dia, vai ser sempre assim”. Foram muitos trabalhos juntos, ela era da Matemática. Eu, Português. Pati tinha um P de poesia, A de amizade a toda prova. T de triste também. I de insubstituível. Lembro que ela gravou para mim, uma fita com vários poemas. Um dizia, “escuta meu amigo, a qualquer hora em que bateres a minha porta, o meu coração também se abrirá”.
Tive a oportunidade de ir à casa de Pati por duas vezes. Percebi o quanto Patrícia gostava de sua mãe, mas a convivência com seu pai não era nada boa. A última vez em que estivemos juntos, faltava pouco para acabar o ano letivo. Ela estava muito triste. Disse que estava com fome e sem dinheiro. Convidei-a para almoçar em minha casa.
Quando chegamos, ouvi Renato Russo cantando “Hoje a noite não tem luar, e eu estou sem ela, já não sei onde procurar, onde está meu amor”.
Hoje, tanto tempo depois, não sei onde andam meus colegas, mas, a saudade mesmo, é de Patrícia. A Pati que tem um P de passado. Mas um A de agora e sempre. T de tanta saudade. I de inesquecível. Acho que a palavra que exprime o quanto Patrícia fez a diferença em minha vida, ainda não foi inventada.
Quando retornei ao netbook, podia se ver na tela, “download concluído”.
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Luiz Silva nasceu em 1976, em Francisco Beltrão (PR). É servidor público, trabalha na Prefeitura Municipal de Francisco Beltrão. É integrante do Centro de Letras de Francisco Beltrão. Participou das coletâneas Trincas que me Trincam, (2020) e Pratas da Casa (2023). Colunista da coluna Hemera, publicada no Jornal Opinião, desde 2025. É apaixonado por música, por literatura e por filosofia, mas sua maior paixão é a tecnologia. Não por acaso, grande parte de sua produção literária é repleta de figuras de linguagem que remetem à linguagem da informática.