CATIVEIRO
CATIVEIRO
(Cleusa Piovesan)
A prisão pode ter a porta aberta,
Mas não deixa de tolher a liberdade.
O pássaro pode ter a porta da gaiola escancarada
E sentir-se cativo da dependência que criou
Com os bons tratos que recebeu,
Porque o amor também aprisiona.
Estar cativo pode ser um estado de alma,
Ou pode ser um estado de espírito,
Ou pode ser uma tortura mental,
Ou apenas um estado de pertencimento,
Ou ainda uma forma de alienar-se
Porque não se tem coragem
De soltar as amarras
E alçar voo rumo ao desconhecido.
Qualquer que seja o estado de prisão
É sempre uma violência psicológica
Que aniquila as forças,
Que bane a resistência,
Que mata a resiliência,
E mina o poder de reação diante da barbárie
Ou de qualquer forma de opressão.
O cativeiro pode ser doce,
O algoz, sedutor.
E tornar possível a paixão pela dependência
Do objeto amado ou do torturador,
Ou do método de tortura.
Misto de amor e ódio,
Cativar é sempre uma forma de aprisionamento
E “estar preso por vontade”
É a melhor forma de aniquilar-se
E de anular-se como ser,
E tornar-se
Humanamente destituído do poder de reagir.
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Cleusa Piovesan – Doutoranda em Letras, Mestra em Letras, com graduação em Letras – Português/Inglês e em Pedagogia; organizadora de dois livros com alunos, e 12 obras de autoria própria; tem participação em mais de 50 antologias e coletâneas; é Acadêmica do Centro de Letras do Paraná, da Academia Brasileira de Letras e Artes Minimalistas, da Associação Brasileira de Poetas Spinaístas, e do Centro de Letras de Francisco Beltrão.