INTROSPECÇÃO

INTROSPECÇÃO
(Cleusa Piovesan)

O bastar a si mesmo
O medo (des)necessário
De necessitar de alguém
De amor, de amar, de amantes…
O medo de desaprender
A tocar, a cheirar, a sentir…
O bastar-se não basta

Bastam alguns dias de isolamento
Alguns dias de solidão total
Alguns dias de escuridão
De sono intercalado
Ou de insônia constante
De perder a contagem das horas
E ver que nada disso basta…

Perdidos na introspecção
Não nos bastaria um raio de sol
Nem uma réstia de lua
O mar não seria o bastante
Para nos libertar da apatia
Da monotonia e da agonia
Do saqueamento
Da vastidão da vida

Mas basta…
É preciso dar um “basta”!
Bastante potente e pulsante
Intenso o bastante
E aniquilar a ideia de viver recluso
Bastando-se.

Há bastante vida lá fora
E todos os dias que virão
Não serão bastantes
Para suprir o que não nos basta
O que nos arrasta
A uma inanição…
Por ora, já basta!
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Cleusa Piovesan – Doutoranda em Letras, Mestra em Letras, com graduação em Letras – Português/Inglês e em Pedagogia; organizadora de dois livros com alunos, e 12 obras de autoria própria; tem participação em mais de 50 antologias e coletâneas; é Acadêmica do Centro de Letras do Paraná, da Academia Brasileira de Letras e Artes Minimalistas, da Associação Brasileira de Poetas Spinaístas, e do Centro de Letras de Francisco Beltrão.