O VAZIO, A SOLIDÃO, AS DROGAS

O VAZIO, A SOLIDÃO, AS DROGAS
(Cláudio Loes)

Estar vivo nunca será fácil. Afinal, sabemos muito, e o pior é que um dia estaremos em algumas memórias por alguns anos, e sós. Se voltamos para trás, o vazio é o mesmo. Ficam perguntas que nos afligem, atormentam, tiram o sono.

De onde viemos? Somos só o resultado ou existe algo singular em cada existência? Quantos universos podem existir? Tudo isso provoca uma tremenda solidão, porque falta algo. Diante disso, desde que temos registros, várias respostas foram dadas. Estilos de vida para conviver um pouco melhor com essa tristeza sem fim, as diversas manifestações culturais e literárias, as diversas correntes filosóficas, as religiões, todos, no fundo, buscam respostas para as inquietações que todos temos.

Ter ótimas perguntas e procurar respostas exige viver, ser alguém no mundo, ser aquilo que se é, buscar a essência, buscar com humildade a verdade. Um grande dispêndio de energia é necessário, porque é mais fácil não fazer nada. E esse deixar de fazer é um problema enorme, na atualidade.

Perdemos o interesse pela busca e queremos soluções prontas. Nem nos importamos se nos tornamos escravos ou não. É aqui que entram as drogas e todas as suas variações. Juntamente com elas, estão os jogos eletrônicos que enganam o cérebro com as milhares de chances de nova chance e de recomeço. Essa combinação escraviza e torna as pessoas meros humanas que as que estão por aí, vegetando.

Procurar culpados, e apontá-los, é muito fácil, porque por preguiça também posso me acomodar e não fazer nada. Afinal, nunca usei drogas, além do tabaco, por algumas décadas, e um chope ali e um drink aqui.

Percebo e me inquieta esse vazio de algumas pessoas ao meu redor. Um vazio que é tão dolorido quanto o meu. No entanto, minha estratégia é de busca constante, e esconder as perguntas para debaixo do tapete não é uma opção. Sou um pouco mais estoico e sei que o que está fora de mim não posso controlar.
E aqui está a minha resposta para as drogas e para os jogos eletrônicos. Se está fora e não tenho controle sobre, também não me interessa porque, mesmo com todas as dúvidas que posso ter, prefiro vivê-las e aprender a olhar sempre mais do alto para ver longe e melhor.

De que adianta ser forte corajoso por minutos ou horas e depois morrer? De nada vale, eu valho mais e isso faz com que conviva melhor com o vazio da existência que faz parte do estar vivo. E aqui entra o que posso fazer. Posso passar a experiência, o exemplo, sem esquecer que recorro à escrita, como nessa crônica, para trabalhar todo esse vazio, no entanto, existe um detalhe de grande valor que fico atento: se no outro não encontro nenhum sinal que possa indicar que vale a pena, desisto. O sinal pode ser muito fraco, mas se existir é possível ampliar, incentivar. Jamais será possível a mudança sem o querer, e eu não faço nada por ninguém. O outro é livre para escolher seu caminho.

O que fazer? O principal a ser feito é ajudar o outro na construção de boas histórias. Quando não estivermos mais aqui só restarão as lembranças que deixarmos, e o cérebro não se sentirá tão finito com essa prática de construir lembranças no presente. A tendência passará a ser a busca, trilhar um caminho que vai tornando isso possível, e conviver com o vazio e a solidão que todos compartilhamos. Lembre-se: o uso de drogas mata! Formular boas perguntas, buscar respostas e construir boas lembranças é viver mais e melhor.
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Cláudio Loes nasceu em 1959, em Blumenau/SC, reside, atualmente, em Francisco Beltrão/PR. É filósofo, engenheiro elétrico, especialista em Educação Ambiental, escritor, poeta e articulista. É Associado do Centro de Letras do Paraná; é Associado Correspondente da Academia Paranaense da Poesia; é Membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão. Publicações pela Amazon: Sete Ventos, 2018; Sonho, 2018; Informações básicas para fazer compostagem, 2018. Publicações impressas: Sonho, 2018; Poesia Primeira, 2022. Participou das coletâneas: Tudo em Versos, 2018; Trincas que me Trincam, 2020; Conexão VI – Antologia Feira do Poeta, 2021; aldraVIAS curitibanas, 2022. Publicou na Trovas e Trovadores: Revista Digital, União Brasileira de Trovadores, 2023; Pratas da Casa, 2023. Editor da coluna Hemera, no Jornal Opinião; colunista na Via Poiesis, Jornal Folha do Sudoeste; colunista na Revista Educação Ambiental em Ação.