Projeto vai desvendar o Mapa da Cultura Alimentar do Paraná e Santa Catarina
A gastronomia expressa a identidade de um povo e isso faz parte do patrimônio cultural e da história de cada região no mundo. Olhar para esse patrimônio é a proposta do projeto Mapa da Cultura Alimentar, que vai investigar o que há por trás dos ingredientes que compõem a base da cultura alimentar regional do Paraná e de parte de Santa Catarina.
Essa descoberta se dará por meio de uma expedição, que terá como bússola insumos e pratos que possuem selo de Indicação Geográfica. Iniciativa da Montenegro Produções Culturais, o projeto conta com recursos da Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura, e tem o apoio do Bom Gourmet.
A viagem por IGs do Paraná e Santa Catarina levará uma equipe de pesquisadores para cidades em busca dos rostos mantêm viva a cultura alimentar local. Todo o processo da pesquisa de campo será transformado em um livro impresso e uma exposição de artes visuais, com lançamento previsto para setembro de 2023.
O objetivo é registrar hábitos alimentares, receitas e temperos em uma viagem roteirizada pelo Paraná e Santa Catarina. Movida pela curiosidade e criatividade, a Montenegro Produções uniu uma equipe composta por historiadores, sociólogos, pesquisadores e especialistas em gastronomia para embarcar em uma jornada. O objetivo é entender melhor sobre a história geográfica, política e alimentar de pratos e alimentos como o barreado de Morretes, o café do Norte Pioneiro do Paraná e a bala de banana de Antonina.
De acordo com a idealizadora do projeto, Carolina Montenegro, o Mapa da Cultura Alimentar surgiu da necessidade de trabalhar a alimentação e as formas de produção e preparo enquanto patrimônio cultural, fonte de histórias e referências.
“A pesquisa utilizará as IGs [indicações geográficas] como bússola para confecção de histórias de pessoas que utilizam os alimentos em suas vidas, seja de forma profissional, afetiva ou pela memória. Com a Lei Federal de Incentivo à Cultura, conseguimos unificar o projeto em entregas sociais, educativas e de incentivo à economia.”
As Indicações Geográficas (IGs) são produtos reconhecidos por sua originalidade local, a partir da reputação e do impacto econômico que apresentam. O projeto conta com a participação do Sebrae em contrapartidas sociais, beneficiando instituições de longa permanência para pessoas idosas e instituições de acolhimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Equipe e trajeto do Mapa da Cultura Alimentar
A missão de entender como essas indicações geográficas se relacionam com a cultura geral paranaense começa no ato de conhecer as pessoas. Para criar o Mapa da Cultura Alimentar, é preciso traduzir relações econômicas, turísticas e culturais a partir de cada alimento.
A viagem levará a confeiteira Ana Souza, o fotógrafo Daniel Siwek, a cientista social Rafaela Rocha e o chef Rui Morschel para uma jornada que começa no dia 03 de abril. Saindo de Curitiba, eles têm Antonina, no litoral do Paraná, como primeiro destino.
O trajeto é dividido em etapas regionais: Leste, Norte, Oeste, Sudoeste e, por último, a Etapa Santa Catarina, o que totaliza em torno de 13 cidades considerando a região Norte Pioneiro, onde se localiza a indicação geográfica do café. Todas as descobertas e vivências serão documentadas no Bom Gourmet, em uma editoria especial para o projeto, que reunirá informações da pesquisa, receita e depoimentos por meio de vídeos, fotografias e produções textuais que contarão essa história.
De acordo com a cientista social Rafaela Rocha, a pesquisa não se trata apenas de gastronomia. É também um projeto que busca entender o próprio pertencimento a partir dos alimentos e pratos que possuem selo de Indicação Geográfica.
“Nós vamos conseguir uma apropriação do conhecimento, porque se sentir parte de algo atinge todos os segmentos da sociedade. O projeto atinge, por exemplo, quem ouviu histórias da sua avó e não achou que aquilo seria o suficiente para ser considerado cultura.”
Proteger o produtor
Ao se tratar da valorização dos produtos tradicionais vinculados ao território, o Sebrae vê como prioridade agregar valor ao produto e proteger a região produtora. Quem representa a entidade no projeto é a consultora Mabel Guimarães, que explica como o estado paranaense é repleto de produtos famosos em sua cultura – mas o trabalho da indicação geográfica, as IG’s, é consolidar essa história.
“O Mapa da Cultura Alimentar dará valor e consideração a cada indicação geográfica. Quem reconhece esses produtos é o INPI [Instituto Nacional da Propriedade Industrial], mas somente após o levantamento de informações que apresentamos por meio de um dossiê, que atende às instruções normativas do instituto”, aponta Mabel.
Arte, literatura e gastronomia
Como resultado dessa jornada, o projeto entregará arte em forma de literatura e uma exposição. O livro Mapa da Cultura Alimentar trará fotos, insights, receitas e toda a experiência registrada na produção, tornando-se uma peça permanente quando se trata de acervo e referência histórica. Ele trará uma visão devidamente poética e humanizada que une o alimento, essencial para a vida, ao que tece e preserva uma sociedade crítica: a cultura.
O lançamento do livro ocorrerá junto a uma exposição de arte, produzida por Renan Viana, artista que por meio de cenas lúdicas mistura figuras humanas de 2 centímetros com objetos de proporção real. “Criarei uma instalação artística usando como base alimentos que estão classificados entre as IG’s do Paraná e SC,” descreve Renan. “Minha ideia é criar um mini mundo e, com as miniaturas, contar um pouco da história de cada IG, considerando seus detalhes e características marcantes.”
O grande público poderá conferir o resultado do projeto em setembro de 2023, no piso L4 do Shopping Mueller, em Curitiba.