Uma mala tão grande para uma viagem tão curta

Os grandes magnatas da sociedade foram convidados para participar de uma glamorosa festa no Castelo do Batel, em Curitiba. O nobre cenário ficou fosco com o brilho requintado dos convidados, dentre tantos poderosos estavam os políticos, juízes, apoiadores religiosos, empresários e muitos outros destaques importantes que esbanjavam riquezas sem moderações.
Enquanto o garçom servia as taças com champanhe, ouvia-os invisivelmente, um falava sobre os novos bens adquiridos em Dubai, outro ostentava o colar de rubis exposto no pescoço da nova esposa como uma prova de amor. Uma socialite comentava sobre os produtos Gucci que acabara de comprar em sua viagem a Paris, enquanto a outra reclamava do quanto estava enjoada de viajar a Hollywood para aliviar a frustração dos filhos.
O anfitrião da festa dirigiu-se até ao púlpito para fazer o discurso de abertura, onde posteriormente, acalorou-se com aplausos e sorrisos delicados estampados nos rostos dos ouvintes, seguidos de apertos de mãos, abraços e gestos de concordância que pareciam troféus para os egos de muitas de suas encarnações. Nomes ilustres e personalidades importantes da elite estavam presentes, pessoas tão cheias de histórias, cobertas de luxos e fortunas, tentavam esconder o vazio existencial sendo o centro das atenções.
Aparentemente, todos ali tinham a vida perfeita, possuíam tudo que poucos têm, e que quase todos querem: status, poder, prestigio e reconhecimento do quanto são superiores aos demais. No entanto, o único que estava em paz era o pobre garçom, que não tinha nada daquilo, carregava em seu amago algo melhor – o desejo verdadeiro de desfrutar as pequenas conquistas sem tirar nada de ninguém e que fazem grande sentido para a vida de um ser humano, humano.
Quando o garçom chegou em casa o seu filho correu encontrar-lhe com um abraço apertado, a sua esposa o recebeu com um beijo e ele deu a ela uma rosa roubada do jardim do castelo. Ela serviu o café enquanto ele preparava um pão com mortadela, seu filho de 10 anos perguntou:
— Como foi o trabalho, pai?
— Ele refletiu por alguns instantes, depois disse:
— Meu filho, a nossa vida é como um passeio, pena que alguns se ocupam preparando uma mala tão grande para uma viagem tão curta, e esquecem que viemos ao mundo sem nada e que vamos embora sem nada.¬¬¬
— Mas pai, o senhor não gostaria de ser rico, morar numa mansão e ter uma Ferrari?
— Lembre-se de uma coisa meu filho: a verdadeira riqueza não está relacionada aos patrimônios que as pessoas possuem, senão os milionários não se suicidavam e nem iam tanto a consultórios psiquiátricos, mas sim aquilo que trazes em seu coração. Por isso, trabalhe para viver com dignidade, seja justo com você e com teu próximo, saiba que o melhor que você pode dar a quem ama é aquilo que as mãos não podem carregar.

Joceane Priamo

Joceane Priamo nasceu em Francisco Beltrão-PR, em 23 de maio de 1988. É formada em Letras Português e Literatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e Pedagogia pela Faculdade Campos Elíseos (FCE), pós-graduada em Docência no Ensino Superior, Antropologia, Educação Especial e Intelectual. Em março de 2021, lançou seu primeiro livro, Francisco Beltrão entre Versos e Sonhos. Participa da coordenação da Via Poesis e como membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão, é professora, escritora, poetisa e cronista.