Crônicas

Felizes para sempre

Vocês lembram dos contos de fadas que ouvíamos quando éramos crianças?Narrativas de amor, onde as princesas superavam inúmeros sacrifícios, os príncipes venciam vários desafios, e, juntos, os casais apaixonados resistiam aos incontáveis momentos conturbados com a magia e a força do amor. Essas histórias, sempre, alegraram os corações dos leitores, consequentemente, serviram de inspiração para filmes, novelas e seriados.Todos esperavam pelos famosos, desejados, e incansáveis, finais felizes.

Esses romances duradouros quase não existem mais. Hoje, os vínculos afetivos se desfazem com facilidade, as pessoas perderam a paciência e a coragem de lutar pelo outro, os protagonistas da vida real esqueceram dos doces encantos de viverem juntos para sempre.O casamento é uma das tradições mais antigas e disseminadas do mundo, no entanto, a união conjugal teve muitas modificações entre as partes envolvidas, e o perdurável feliz para sempre foi substituído pela ilustre frase de Vinicius de Moraes “Que seja infinito enquanto dure”.

Não sei dizer se alguma bruxa malvada lançou algum feitiço contra a humanidade ou se inventaram uma poção que faz com que os casais não suportam as contrariedades. A verdade é que os relacionamentos estão cada vez mais descartáveis, os casais vivem de instantes e desistem da construção de uma história logo nas primeiras dificuldades. Não me refiro apenas as histórias de amor, as demais relações, também, estão assim, breves e com poucos valores, seja com familiares, amigos ou colegas do trabalho. Parece que cada vez menos as pessoas estão dispostas a aceitar os defeitos do outro. A ação de relacionar-se é uma troca construída diariamente, exige equilíbrio entre dar e receber, requer honestidade, aceitação, dedicação e reconhecimento.

Ainda não sabemos qual é o segredo de nossos antepassados viver uma relação conjugal tão duradoura, se eles aprendiam a se suportar, se não tinham outra opção ou se desenvolveram bem as ações de conviver, ter paciência, tolerância e empatia.O que não tínhamos tanto como atualmente é o alto índice de rompimentos conjugais.Pessoas perfeitas não existem, por isso, é melhor não criar tantas expectativas idealizando uma relação. Nem toda união é como sonhada, e quando alguém parecer muito esplêndido, é melhor desconfiar, pois, pode ser mais um golpista do Tinder.

Quem deseja criar vínculos, precisa estar disposto a mostrar suas fragilidades e incertezas, como também, estar ciente que outro possui imperfeições. Quem almeja uma história de amor, deve ter consciência das divergências e os seus altos e baixos. Você precisa estar disposto a aceitar sem julgar,orientar quando precisa e a se ceder quando é necessário. Não existe uma fórmula mágica para que as relações perdurem diante do tempo. Viver, eternamente, feliz e satisfeito é impossível, visto que, a felicidade não pode ser adquirida em uma loja, com direito a garantia estendida.Toda troca afetiva requer cuidados e quando algo não acontece como esperado daí surge a pergunta: o melhor é descartar ou consertar?

Quem deseja ser feliz no amor não deve buscar uma pessoa perfeita, mas sim, reconhecer os defeitos do outro, e mesmo assim, querer ficar com ele todos os dias.

Joceane Priamo

Joceane Priamo nasceu em Francisco Beltrão-PR, em 23 de maio de 1988. É formada em Letras Português e Literatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e Pedagogia pela Faculdade Campos Elíseos (FCE), pós-graduada em Docência no Ensino Superior, Antropologia, Educação Especial e Intelectual. Em março de 2021, lançou seu primeiro livro, Francisco Beltrão entre Versos e Sonhos. Participa da coordenação da Via Poesis e como membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão, é professora, escritora, poetisa e cronista.