CRÔNICAS
Como você gosta do seu café?
Dona Lore trabalhou cinco anos numa empresa destaque em designer de interiores, nos quatro primeiros anos ela ocupava o cargo de faxineira. Poucos funcionários a notavam, até que um dia, quando terminou seus afazeres, notou que havia no armário um pacote de café, então resolveu passar e servi-lo junto com um bolo de milho quentinho.
Ela já tinha ouvido falar que é possível conquistar a atenção de uma pessoa distraída pela aparência ou pelo estômago, e, naquele dia, um aroma diferente se espalhou pela empresa, e todos passaram pela cozinha tomar um cafezinho e bater um papo com ela, alguns até se desculparam, pois, mesmo trabalhando num igualitário período de tempo, não sabiam o seu nome.
No final do expediente, Lore foi chamada até a sala do seu chefe, o qual lhe deu os parabéns pelo lanche tão saboroso, além disso, recebeu uma proposta de aumento, caso ela acrescentasse nas suas tarefas o preparo diário do café. Ela, alegremente, aceitou. Afinal, esta simples ação não lhe tomava muito o seu tempo, acreditava que o humor sempre melhorava depois de um bom café.
A partir daquele dia, Lore chegava ao trabalho e a primeira tarefa que fazia era por a água esquentar e preparar o café, depois deixava o local arrumado. Lavava as xícaras, colocava alguns biscoitos amanteigados no pote e até os colegas que passavam dias sem conversar tornaram-se mais próximos. A sua simples atitude teve grande contribuição para a equipe.
Nos primeiros meses todos os funcionários da empresa estavam satisfeitos com o agrado. Afinal, os empregados podiam sair de casa com calma, não precisavam enfrentar filas nas padarias, pois sabiam que a Lore os aguardava com um café. Até que numa manhã a presidente da empresa chegou até Lore relatando que estava com a diabete alta, pediu se ela não se importava de fazer o café e deixar sem açúcar. Ela,caridosamente, compreendeu. Passou o café e colocou um açucareiro ao lado para que cada um adoçasse de acordo com o gosto.
Os dias seguiram normalmente, até que a secretária se aproximou da Lore queixando-se de que o café preto estava lhe fazendo mal, pediu se ela poderia fazer o café com leite. Lore para não desagradar, assim, o fez. Entretanto, sua boa ação causou outro descontentamento, pois a coordenadora era intolerante à lactose.
Nos próximos dias, Lore fez o café sem açúcar e sem leite, deixou ao lado um açucareiro e um pote com leite em pó e biscoitos integrais para apaziguar as divergências.Um mês depois, o tesoureiro chamou atenção da Lore, falou que as despesas com o café aumentaram, pediu que ela colocasse menos pó, assim, a durabilidade seria maior. Ela como uma boa funcionária acatou as ordens, mas o gerente não gostou nada da ideia, pois não queria tomar chá de café, café só era bom se fosse forte.
Sem dizer uma palavra, Lore concordou. Então preparou o café de sempre, colocou ao lado o leite, o açúcar e uma nova térmica com água para quem preferisse mais suave. Naquilo entra uma funcionária recém-contratada, que ao dirigir-se até a mesa para servir-se, fez o seguinte comentário:a pessoa que prepara o café não deve saber fazer direito pelas quantidades de apetrechos que tem aqui.
Toda vez que alguém fazia uma queixa, Lore encontrava alternativas para tentar agradar a todos, mesmo que cada atitude lhe sobrecarregasse.Entretanto, percebeu que quando os problemas são as pessoas intolerantes, o afastamento é a melhor solução, pois sempre terá alguém que encontrará um motivo para complicar o que é simples.
Lore teve vontade de recolher todos os utensílios da mesa, despejá-los na pia, pegar a sua bolsa e ir embora com a certeza de que era melhor não ser notada, do que ser vista por todos e não receber o reconhecimento merecido, mas lembrou que tinha contas a pagar, precisava do dinheiro para ajudar no sustento da família, o medo de ficar desempregada era maior do que ficar atarefada. Em vez de usar o aparador para cafeteira, começou utilizar uma mesa de jantar.