CRÔNICAS
Disputa doentia
Duas amigas de longa data, com cerca de quarenta e poucos anos, encontram-se por acaso na rua, ambas param para conversar. Marta pergunta:
—Como está a sua saúde, Ivone?
—Marta ainda sofre com as dores de cabeça, já faz três dias que estou com dor e não passa.
—Meu Deus! Ivone, eu estou com enxaqueca já faz um mês, fui ao médico, tomei remédio e não adiantou, meu trabalho é muito estressante, tenho muitas responsabilidades, por isso não consigo melhorar.
—Nem me fale, Marta. Eu ando com dor nas costas de tanto trabalhar e se não bastasse, tenho uma casa enorme para cuidar, filhos e marido. Você tem a vantagem de ser sozinha e não precisar se preocupar com ninguém.
—Eu estou mais cansada do que você imagina, Ivone. Minha mãe está doente, fiquei vários dias no hospital, peguei até uma infecção, levei dias para me recuperar.
— Essas infecções acabam com a gente,você acredita que a minha filha pegou uma virose na escola e todos lá em casa adoecemos, tive que tomar soro para me recuperar e, quando pensei estar curada, a minha vizinha veio me visitar e me passou conjuntivite. Marta do céu, meus olhos pegavam fogo de tanto que ardiam.
— Que triste isso, Ivone. Agora que você falou dos olhos, lembrei que preciso marcar uma consulta com oftalmologista porque estou com a visão embaçada e não estou enxergando direito.
— Eu preciso marcar uma consulta com um cirurgião vascular, tenho muitas varizes e não aguento de dor nas pernas. Ano passado, fiz uma cirurgia no joelho. Marta, demorei quarenta dias para me recuperar.
— Ivone, não é fácil se restabelecer, a imunidade baixa e o corpo enfraquece. Eu estou adiando há dois anos a operação da joanete, houve um desalinhamento entre os ossos e as articulações dos dedos dos pés e o médico disse que não tem outra solução a não ser cirurgia.
Naquilo passa Dona Angela correndo, uma senhora aposentada com setenta e dois anos, viúva, sozinha e feliz.
— Bom dia, meninas! Que manhã linda para correr e passear.
Elas respondem o bom dia com um sorriso disfarçado. Quando Dona Angela vai embora, Marta vira para Ivone e diz:
— Assim é fácil viver, ela tem tempo, dinheiro e pode fazer o que quiser.
— Verdade, Marta. Ela não precisa lutar diariamente igual a nós.
E Lá se foram mais trinta minutos de uma conversa queixosa.