CRÔNICAS

O ato de nomear

Você já se perguntou de onde vem o nome das coisas? Por que mesa se chama mesa e não abacaxi? Você sabe o motivo pelo qual recebeu o seu nome? Será que foi para homenagear alguém, para referir-se a algum artista ou foi escolhido porque era uma tendência da época?

Se existe algo que todo o mundo tem é um nome. Se gostamos dele ou não, já é outra história. Os nomes servem para identificar e classificar tudo que existe. São formados por associação, junções, reduções, adaptações, ou simplesmente, porque alguém os inventou.

Como todo criador, Deus limitou-se a criar, fez tudo, o dia e a noite, o céu e os mares. Mas ele não teve imaginação, vontade ou tempo para dar nomes a tudo que ia criando. Então coube a humanidade a missão de nomear as criações e as criaturas.

No entanto, escolher um nome para alguém se tornou um processo diferente a cada gestação, pois a moda não afeta apenas as roupas que usamos, o nosso nome diz muito sobre nós mesmos e sobre as pessoas que o escolheram.

 Hoje, os Enzos, Benícios, Davis, Lauras e Ísis vivem o auge da fama. Ocupam os topos das listas dos nomes das crianças.  Outros,  já tiveram a oportunidade de serem clássicos, mas agora são considerados antigos e, praticamente, não existem em certidões de recém-nascidos. É o que acontece com os Oswaldos, Zacarias, Beneditos, Alziras, Firminas e Sebastianas, os nomes caíram em desuso e se tornam raridade diante da multidão.

 Muitos nomes por serem bíblicos, sempre ressuscitam diante do tempo, são universais, estes, jamais são apagados, independente do século, sempre existirão os Pedros, Joãos, Marias e Anas.

Algumas pessoas enfrentam desafios quando a referência é a identificação, visto que, todo  nome traz consigo um sobrenome e a combinação pode sofrer piadas desagradáveis. É o que acontece com a família Pinto, que já experimentou muitas malícias com as associações involuntárias, desde o nascimento do Inácio Pinto, a juventude do Jacinto Pinto, até o momento da morte do Serafim do Pinto.

Já conheci muita gente revoltada com os erros cometidos pelo cartório e também os que enfrentam a distração das pessoas durante a pronúncia. Outro dia, eu estava no pronto-socorro e a atendente chamou a Vagina para comparecer ao consultório, todos se olharam contendo o riso, e na terceira tentativa do anúncio, uma mulher levantou enfurecida e falou: não tem ninguém aqui com o nome de vagina, mas se for  Vagna com G mudo, sou eu.

São muitas as polêmicas que giram em torno dos nomes. Existem aqueles que são considerados requintados e diferenciados por serem estrangeiros, é o caso de Noah, Anthony, Stella, Desirée, Matteo. Há também os que gostam de inventar moda com as letras dobradas: Isabelly, Emmanuelle, Gusttavo, Brenno, e outros que nascem da junção de dois nomes: Marlúcia, Florisbela, Josemara, Lindomar, Josenildo. Não se pode esquecer daqueles que foram criados com referência a pandemia, que é o caso de Corona e Covid.

Independente de qual for a escolha, não existe certo e errado quando se fala em escolher o nome de um filho. Só deve ter o cuidado para que o nome escolhido não gere constrangimentos no futuro.  Uma pessoa não deve ser delimitada pela junção de várias letras, são as ações no dia a dia que definem a  verdadeira imagem de alguém.

Joceane Priamo

Joceane Priamo nasceu em Francisco Beltrão-PR, em 23 de maio de 1988. É formada em Letras Português e Literatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e Pedagogia pela Faculdade Campos Elíseos (FCE), pós-graduada em Docência no Ensino Superior, Antropologia, Educação Especial e Intelectual. Em março de 2021, lançou seu primeiro livro, Francisco Beltrão entre Versos e Sonhos. Participa da coordenação da Via Poesis e como membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão, é professora, escritora, poetisa e cronista.