CRÔNICA
A evolução dos automóveis e a involução dos motoristas
Bi-bi! Vrom-vrom! Sai da frente! Bi-bi! Acelera seu monte! Está dormindo na faixa? Bi-bi! Pow! Boom! Estas palavras lembram algum lugar? O que gritos, buzinas e xingamentos representam?
Diariamente, milhares de pessoas desfilam com seus carros pelas ruas. Carros luxuosos, sofisticados, antigos, revisados e aqueles velhos calhambeques incapacitados que insistem em não se aposentarem. Para muitos indivíduos, os automóveis são símbolos de ostentação, pois retratam poder, embora não trazem expostos nos vidros traseiros as longas parcelas do financiamento que ainda precisam ser quitadas.
Quem viveu nos anos de 1970, experimentou emoções que hoje não são compreendidas. O calor poderia estar escaldante, mas ninguém ligava para esse fato, abaixavam-se os vidros à manivela e o vento natural recebia aplausos, nem os cabelos embaraçados estragavam o humor dos ocupantes.
Os veículos que tinham toca-fitas possuíam um acessório de luxo. As travas manuais garantiam a segurança, impedindo que o carro fosse levado pelos bandidos. Os bancos eram inteiriços e a lataria era tão forte que os jovens apaixonados se escoravam para namorar, pessoas sentavam no capô, e mesmo assim não amassavam.
Hoje, os automóveis estão cada vez mais tecnológicos para que motoristas e passageiros sintam o aconchego e o bem-estar. Os fabricantes investiram no conforto e na segurança acrescentando luz ambiente para diminuir o estresse, câmbio automático para facilitar a condução, airbag para aumentar a proteção, vidros elétricos para agilizar o manuseio e o ar condicionado para manter a temperatura ideal, este, jamais pode faltar.
O sinal verde abre e uma longa fila de veículos logo se forma. Carros de diferentes marcas, cores e qualidades percorrem as estradas com o mesmo objetivo: chegar a um determinado lugar. Nota-se que o aprimoramento tecnológico melhorou a segurança das máquinas, mas se aumentou a sofisticação, qual será a razão dos condutores estarem cada vez mais estressados no trânsito?
Mesmo aqueles que possuem os famosos “carrões”, demonstram descontentamento e um mau convívio nas rodovias, estes, deveriam estar felizes com suas conduções, mas ao contrário, o desrespeito e a desatenção contagiam os motoristas em geral.
De acordo com o código de trânsito, os condutores dos veículos maiores deveriam cuidar dos menores. Contudo, é notável a arrogância e superioridade de quem está atrás do volante. Imprudentes, circulam com a velocidade além dos limites, realizam ultrapassagens perigosas, pensam que a potência do motor lhes dão imortalidade e asas para voarem. Infelizmente, o cemitério está cheio de pessoas que perderam o carro, perderam a vida, perderam os sonhos por causa das pessoas apressadas.
Cada condutor representa as diferentes formas como lidamos com o trânsito, e também com as frustrações. Gestos ofensivos, discussões, distrações, colisões, acidentes, fatalidades são consequências daquilo que somos e fazemos com a vida.
Nossos valores não estão atrás dos bens que nos escondemos, nem naquilo que possuímos. O luxo está na forma como conduzimos a vida, as responsabilidades e inclusive o próprio carro. O esplendor está no respeito que temos pelo nosso próximo. Estas riquezas sempre serão clássicas, elas não estão sobre rodas, pois a evolução depende de ações conscientes que nenhum dinheiro pode comprar.