CRÔNICAS

Eternamente avaliados

Acabaram-se as provas, vieram-se as notas, finalizaram-se os cursos e continuamos sendo avaliados. Será que em algum momento da vida as classificações vão terminar? Historicamente, somos herdeiros de uma longa trajetória de testes, seja nas situações mais simples do dia a dia, nas execuções de tarefas complexas ou na maneira como nos comportamos.

Somos acompanhados de olhares críticos desde a gestação. Observa-se o tamanho da barriga da mãe, a quantidade de quilos que ela engordou, logo, determina-se um padrão a ser seguido, que é definido como saudável. Quando os bebês nascem, a cada mês passam por uma avaliação médica, conforme a idade aumenta, alguns avanços devem ser alcançados. Calcula-se uma idade certa para andar, falar e se desenvolver. Constatam-se quais são as fases da vida em que cada indivíduo irá passar. Mudanças são apresentadas e diagnósticos são preparados. Consequentemente, resultados devem ser conquistados dentro do período esperado.

Somos avaliados pelas roupas que usamos, pelas palavras que pronunciamos, por aquilo que compramos, pelo alimento que comemos, pelas companhias que andamos. Na escola, como na vida, avaliar é positivo, nos ajuda a entender no que somos bons e no que precisamos melhorar. A vida é uma excelente professora, sempre nos reserva testes surpresas, é jeito dela nos cobrar quando não estamos empenhados.

Diferente da escola, na vida, aqueles que não estão preparados, nem sempre têm a chance da recuperação para consertar o resultado inesperado. Para a sociedade a avaliação é aplicada no sentido de atribuir valor.  A questão é que nem todos são escolhidos, nem todos conseguem tirar boas notas. O que fazer quando não somos aceitos? Como superar os julgamentos?

Viver bem cada dia é o nosso maior desafio. Pais, professores, amigos, companheiros, filhos, desconhecidos nos apontam nossos pontos fortes e pontos fracos de forma espontânea e natural. Alguém, acima de nós, irá definir um padrão, considerado ideal. Aqueles que não se encaixarem no sistema serão os excluídos, metaforicamente, reprovados.

O ato de avaliar o próximo traz alguns problemas: apenas um ponto de vista é insuficiente para atestar o sucesso ou fracasso de alguém. Um resultado ruim não invadida outras aptidões. As experiências e conhecimentos de cada pessoa são diferentes. Não faz sentido usar um padrão único, sem considerar a trajetória percorrida.

Portanto, o ato de avaliar necessita de cuidados, seja por um professor formado que analisa um resultado ou por um mero espectador que gosta de dar opiniões sobre os valores da sua vida e atribuir o que é certo e errado. A vida pessoal, profissional e estudantil trazem paradoxos para que possamos resolver os problemas, superar as dificuldades e vencer os desafios. Os resultados são consequências dos esforços. As possibilidades são infinitas, e muitas vezes, as notas são indefinidas, mudam constantemente, conforme mudam as circunstâncias da vida.

Joceane Priamo

Joceane Priamo nasceu em Francisco Beltrão-PR, em 23 de maio de 1988. É formada em Letras Português e Literatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e Pedagogia pela Faculdade Campos Elíseos (FCE), pós-graduada em Docência no Ensino Superior, Antropologia, Educação Especial e Intelectual. Em março de 2021, lançou seu primeiro livro, Francisco Beltrão entre Versos e Sonhos. Participa da coordenação da Via Poesis e como membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão, é professora, escritora, poetisa e cronista.