CRÔNICAS

Pai: um exemplo de amor

No silêncio do campo, sentado atrás do fogão à lenha, meu pai prepara seu ritual diário de satisfação. Sua paz interior, seu momento de meditação é encontrado quando ele segura a cuia na mão. Para os tradicionalistas, este é um hábito que nunca sai de moda, os costumes carregam as bagagens da nossa herança. Ele ouve as notícias pela rádio, prepara seus afazeres, tranquilamente, tomando o seu chimarrão.

Infinitas vezes, eu lhe questionei, tentando entender qual era a graça de tomar água quente esverdeada. Desde que me conheço por gente, meu pai faz isso todos os dias. Ele acorda e se possibilita viver o que lhe dá prazer. Uma pausa para o mate, um momento de distração deixa uma grande lição: aquele que deseja ser feliz de verdade, deve fazer o que lhe dá alegria, independente do julgamento das outras pessoas. Mesmo que a vida mude, é importante conservar a sua verdadeira essência. O tempo é sagrado, encontre um momento só para você, pois nas simples tarefas do dia a dia é que se encontra a paz tão almejada.

Meu pai nunca foi de muita conversa, sua conduta falou por ele. A sabedoria de um homem sensato revelou que o silêncio também expressa muitas palavras. Com seu jeito manso de viver, sem esperar nada de ninguém, ele me mostrou que a vida é feita de construções, ninguém consegue mudar a história sem antes mudar a si próprio. Na sua trajetória humilde, não teve a oportunidade de estudar, mas o bom exemplo foi sua maneira de ensinar.

Meu avô morreu muito jovem, desde criança, meu pai trabalhou para sustentar a família. Cresceu apenas com os cuidados da mãe, sem pai, sem tempo para brincar, assumiu o ofício de homem da casa, ajudou a cuidar de seus irmãos, manteve a firmeza do lar. Ele tinha apenas nove anos, crianças com essa idade, geralmente, vivem despreocupadas, mas para meu pai foi diferente, uma junta de bois e um arado foram sua companhia do nascer do sol até o anoitecer.

Hoje, ele enfrenta as consequências de quem não teve escolha e precisou batalhar. Sua mente continua juvenil, seu jeito carinhoso de brincar mantém viva uma criança cheia de energia, no entanto, as dores nas costas, dores nas pernas, dores no peito, surgem diariamente para lembrar a ele que o corpo já tem outra idade, que não é possível fazer as mesmas tarefas com tanta agilidade.

Assim como ele, cada indivíduo tem seus desafios e sua maneira de viver a paternidade. É nos princípios de nossos pais que nos espelhamos. Não importa se o pai vive longe ou perto, se é biológico ou adotivo, a diferença está no cuidado que cada um tem na relação.

Nas palavras que pronunciamos, nas trocas de olhares, nos conselhos que recebemos, há um diálogo curador que enche o coração de admiração, pois todo pai que cuida bem do filho é um exemplo de dedicação. Todo filho que tem um pai, honrado, sabe que o amor é a sua melhor definição.

Joceane Priamo

Joceane Priamo nasceu em Francisco Beltrão-PR, em 23 de maio de 1988. É formada em Letras Português e Literatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e Pedagogia pela Faculdade Campos Elíseos (FCE), pós-graduada em Docência no Ensino Superior, Antropologia, Educação Especial e Intelectual. Em março de 2021, lançou seu primeiro livro, Francisco Beltrão entre Versos e Sonhos. Participa da coordenação da Via Poesis e como membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão, é professora, escritora, poetisa e cronista.