CRÔNICA

O inverno e suas divergências

Geadas enfeitam os morros para mostrar que o mês de julho chegou
animado, o vento também está preparado para dar boas-vindas e a chuva, de
vez em quando, aparece para fazer companhia aos outros fenômenos. Nas
ruas, começam os desfiles de botas, gorros, lãs e cachecóis. Cobertores são
retirados dos roupeiros, aumenta-se a temperatura do chuveiro, encolhem-se
os ombros para reclamar do frio que endurece os pés e gela os dedos das
mãos. O momento é perfeito para dizer a tão famosa frase: – Ui que frio!
Os amantes do inverno sentem alegria ao ver que a estação vem
chegando. Satisfação é chegar a casa, tomar um banho quente, vestir aquele
pijama pelúcido com pantufas de bichinho e assistir um filme enrolado no
cobertor, saboreando um chocolate quente. O clima é tão agradável, que
também, faz aquele convite especial para acender a lareira, tomar uma sopa,
abrir uma garrafa de vinho e brindar pela vida.
Engana-se quem pensa que todos podem desfrutar o conforto deste
período, o gelo que veste a mãe terra é requinte para uns e trágico para
outros. A sombra que dança pelo céu torna-se a escuridão de muitos
desabrigados. Infelizmente, ainda há pessoas que não conseguem escapar do
vento cortante que se infiltra pelas frestas dos casebres ou que aterroriza
aqueles que dormem em barracas de lonas ou papelões.
Nesta época, os abrigos ganham recorde de acolhimento, entre os que
passam frio no inverno, estão os sem-teto, que não possuem casa, não
possuem roupas apropriadas, não possuem expectativas de dias melhores.
Adultos, jovens, crianças enfrentam a dureza da vida e a crueldade da
estação. O plano é fugir dos dias gelados, vestidos com trapos, recorrem à
companhia de uma garrafa de cachaça e, com muita sorte, recebem um prato
de comida de um desconhecido que se comove com a situação.
Há quem diz que o inverno é o momento de quietude e introspecção.
Um breve período da natureza que nos ensina a diminuir o ritmo.
Aparentemente, até os animais ficam escondidos em suas tocas, às folhas
das árvores morrem, galhos ficam despidos por um tempo, depois surge à
próxima estação, nova fase, em que a vida começa a florescer novamente.
As baixas temperaturas que assustam uns e acalentam outros, fazem
parte do ciclo da vida. É um período breve, em que a natureza se renova e
nos ensina muito com seus encantos e desafios. Nestas horas, o inverno
pode ser bom e ruim, depende da forma como cada um vive.
Quem tem juízo, agradece por ter condições de desfrutar o conforto de
um lar. Quem tem coração, ajuda a espalhar o calor, seja com doações de
roupas, comidas ou abrigos para os que se encontram fragilizados. Assim
como cada estação, tudo na vida é passageiro, por isso aproveite o tempo,
independente se estiver frio ou calor, cada dia é único, desfrute-o, ajude teu
próximo com amor. Que o frio que congela os campos, não seja capaz de
esfriar a tua alma.

Joceane Priamo

Joceane Priamo nasceu em Francisco Beltrão-PR, em 23 de maio de 1988. É formada em Letras Português e Literatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e Pedagogia pela Faculdade Campos Elíseos (FCE), pós-graduada em Docência no Ensino Superior, Antropologia, Educação Especial e Intelectual. Em março de 2021, lançou seu primeiro livro, Francisco Beltrão entre Versos e Sonhos. Participa da coordenação da Via Poesis e como membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão, é professora, escritora, poetisa e cronista.