CRÔNICA
UM ESPAÇO VAZIO
Numa casa abandonada pelo tempo, entrou um grupo de diferentes profissionais que observavam o espaço vazio. Tudo, ali, parecia sem vida, o cheiro de mofo impregnado nas narinas era enjoativo, as teias de aranhas prendiam-se ao corpo, o piso sujo entristecia ainda mais o ambiente, no entanto foram surpreendidos por um cômodo que ficava nos fundos da construção.
Sozinha, quase isolada, uma sala enorme com uma parede branca, intocável e leve como alguém dá boas-vindas. O artista viu naquele espaço o motivo de sua criação, o músico viu a melodia que retratava o vazio de sua composição, o advogado consultou as leis para verificar a qual dos herdeiros pertencia aquela simples e enorme parede, o professor viu a lousa dos sonhos de sua classe, e o poeta viu um lápis abraçado num coração.
Os outros profissionais, surpresos, olharam-se buscando entender àquela visão.
Com o lápis, eu poderia registrar magníficas histórias que aquele espaço morto já viveu e o coração contaria em silêncio as mais variadas experiências de quem passa por um lugar e consegue sentir a sua verdadeira essência.
Assim, respondeu o poeta.
Joceane Priamo