ALTHEIA

Gordinha

Cláudia tinha 20 anos, 1,65 metros e 85kg quando casou com Marcio. A princípio, era uma relação que desde o namoro parecera um conto de fadas: em tudo, ele era um cavalheiro, carinhoso, gentil. Só tinha uma coisa que ele não gostava em Cláudia: sua vasta massa gorda. Sim, ela era gordinha, e isso várias vezes foi motivo de discussão entre o casal:

– Além de não ser saudável pra ti continuar assim, é visivelmente antiquado esse sobrepeso. Procura uma nutricionista, uma academia, sei lá! Sabes como odeio gordos… – Dizia ele, sem levar em conta os sentimentos da esposa que tinha seu coração dilacerado todas as vezes que discutiam sobre isso.

Reviravolta

Mesmo que seu sentimento fosse ferido com as brigas, Cláudia tinha uma autoestima tão baixa que via no marido mais qualidades para compensar os defeitos. E por isso, após tempos de insistência e atritos, decidiu procurar um personal trainer e começar a fazer musculação na academia. Arrumou também uma nutricionista. Estava determinada, não para agradar a si – que aliás nunca vira problema na gordurinha – mas sim o insistente marido.

E assim foi a rotina de Cláudia, que, durante um ano e meio, foi todos os dias da semana na academia, acompanhada de dietas rigorosíssimas. Consequentemente, o resultado veio: perdera cerca de 20kg durante esse período, alcançando além de uma saúde melhor, um corpo desenvolto. Passou a ver curvas e definições aonde antes só via gordura. Estava, finalmente, encorpada nos moldes e desejos do marido. Acontece que nem só o marido havia ficado satisfeito com os resultados.

Insegurança

Marcio, que agora valorizava sua mulher, passou a ver comportamentos estranhos na esposa. Agora, fotos no Instagram, roupas decotadas e amizades masculinas, principalmente com o personal, passaram a ser corriqueiras na vida dela.

Isso incomodou muito o homem. Vira sua autoestima atingida pela felicidade da esposa. Desenvolveu ciúme tal que, durante uma das consultas semanais que o Personal Trainer requisitava para avaliação corporal em seu escritório, Marcio resolveu fingir que ia ao trabalho, no horário de costume, e ficou à espreita, próximo de sua casa.

Desfecho

Quando a esposa saiu para a tal avaliação, Marcio segui-a a fim de confirmar para si mesmo que tudo o que imaginava não passava de mera insegurança.

Acontece que enquanto ia seguindo a mulher, ele notou que o caminho era um tanto estranho; escritórios de Personais geralmente não se encaminham a beira de estradas.

Chegando ao destino, um misto de sentimentos tomou o homem: Claudia estacionava em frente a um Motel. Tomado de arrependimento, Marcio desejou nunca ter dado importância a aparência da mulher; “não haveria ali defeito”, pensou, a não ser a inconveniência de um homem medíocre.

Matheus Augusto

Matheus Augusto da Cruz, acadêmico de medicina da Unidep, dono das páginas Aletheia, no Facebook e @apriorialetheia, no Instagram