Estaria a Educação Sufocada?
Por Victor Emmanuel Urio
Que o prolongamento do estado de quarentena causa preocupações, certamente não é novidade. A interrupção de nosso cotidiano, em maior ou menor grau, tem sido o assunto principal nos mais diversos círculos. Dentre as coisas interrompidas, temos a educação de nossas crianças. Muito além dos problemas imediatos, como “quem poderá cuidar dos filhos enquanto trabalha”, espreita-se um prospecto muito pior: de que esse será um “ano perdido” que prejudicará até mesmo o futuro mais distante de nossa juventude.
O depoimento de uma mãe revela essa grande consternação. A entrevistada, que preferiu não identificar-se, comenta que mesmo com um bom suporte, não é mesma coisa que uma sala de aula, e que sua filha já demonstra certas dificuldades de adaptação. Teme que no ano que seguirá, terá uma falta particularmente intensa. As angústias dessa mãe certamente não são exclusivas dela.
Para sanarmos — ou ao menos dimensionarmos — as preocupações, conversamos com Claudia (…), professora em Francisco Beltrão. Com ela, entendemos melhor os esforços do sistema educacional em não deixar ninguém para trás.
Dos esforços mais ligados a organização do sistema para a crise sanitária, a entrevistada comenta que inicialmente foi adiantado o recesso de julho para a organização do ensino a distância (EAD). Foram distribuídas atividades para cada professor, e levaram em conta as particularidades de cada turma. Quando questionada sobre a acessibilidade do material para esse modo de ensino, a entrevistada respondeu “as aulas estão disponíveis na tv 4.1, 4.2 e 4.3, no YouTube e no aplicativo AulaPR, o qual não necessita de internet para uso, além disso os professores enviam para o colégio atividades para impressão as quais os alunos pegam a cada 15 dias na entrega da merenda e devolvem também a cada 15 dias quando voltam buscar mais merenda e mais atividades”. Isso responde às ansiedades sobre o acesso ao material dos alunos de origem social mais humilde.
Tratando-se das dificuldades para os professores, menciona a adaptação necessária para as novas tecnologias. É um esforço contínuo de aprendizagem por parte dos docentes. Os alunos, embora mais acostumados ao uso dos recursos virtuais, tem de readapta-los a educação, em detrimento do papel recreativo anteriormente utilizado.
Abordando a participação dos alunos, a resposta surpreende: é quase a mesma. Claudia comenta que os alunos interessados continuam interessados, mas também tem os que só copiam, os que só almejam ter nota para não reprovarem, não diferente das salas de aula dos tempos pré-pandemia. Para a entrevistada, o esforço do aluno é a peça chave para o bom desempenho.
Claudia defende o EAD como alternativa a essa situação. Em suas palavras “para o momento não tem sistema melhor, a EAD já é uma realidade, o único problema foi aprender (…) nem todas as pessoas tem aptidão para este tipo de ensino, ele tem seu público alvo, (…) a pessoa tem que se conhecer!” Tratando-se do aprendizado dos professores, a entrevistada comenta que estão recebendo cursos capacitantes, os tornando aptos ao novo modelo.
Um contraponto mencionado foi o trabalho “extra”. Devido a natureza do EAD, acaba tendo um tempo mais extenso diretamente envolvido no trabalho, que apesar de remoto, certamente não é menos laborioso.
Com isso, fica evidente que o esforço para manter a qualidade do Ensino não é pouco. Os professores dedicam-se a aprender uma metodologia que em situações normais jamais usariam. O aparato do Estado tenta providenciar os recursos necessários, e os pais e alunos tentam assimilar as diferenças que acompanham nossa anômala situação. Agora resta aguardar os frutos futuros desse díficil plantio no inverno de 2020.