ALETHEIA

Humilhações: o preço da carência

Existem certas coisas que não mudam. Em “O Eterno Marido”, de Dostoievski, o personagem Pavel Pavlovitch é a evidência disso. Alguém que, aparentemente, é destinado a ser um corno. Isso mesmo, uma vítima de adultério. Isso porque o desgraçado do personagem sempre permanece em encontrar para si uma companheira de caráter duvidoso.

O que aprendemos em obras de ficção, como a do autor russo, pode ser facilmente visto na nossa realidade. Mais do que uma breve e limitada imitação da vida cotidiana, “O Eterno Marido” é crucial para criticar aqueles que, até hoje, são de fato “eternos maridos”, isto é, homens que admitem serem esculachados, pisoteados, humilhados e até traídos por uma mulher, em troca de seu amor.

A falta de amor próprio que assolou Pavel Pavlovitch na obra russa, é a mesma que assombra o conhecido “homem feminista”, aquele que, como vemos em Fiuk, no BBB 21, só falta dizer “desculpa por ser homem” quando em uma conversa com uma mulher. Parece-me que, por carência, uma parte dos homens aceita submeter-se ao ridículo.

Veja bem, existem perspectivas feministas extremamente genuínas e dignas, como a luta por igualdade de gênero em setores do cotidiano, como trabalho, remuneração e direitos civis. Isso é inquestionavelmente valoroso no feminismo. O problema, entretanto, são os discursos exagerados de uma pequena ala desse movimento, que enxerga em tudo o machismo, o patriarcalismo e a desigualdade de gênero. E, se não bastasse, essa ala tenta fazer a sociedade inteira engolir esse discurso goela abaixo.

Nesse contexto, vemos como o feminismo acaba saindo manchado no discurso público. Os bons pagam pelos maus, infelizmente.

Mas o que eu desejo apontar nessa coluna é o resultado disso nos tempos atuais. Não seria exagerado de minha parte afirmar que hoje vários homens sentem-se inseguros em tentar começar um diálogo com uma mulher, pura e simplesmente por temerem serem cancelados e taxados como machistas ou assediadores.

Por fim, fica claro como existe um certo autoritarismo nisso. Ou você aceita o discurso, ou será cancelado. Ou você continua sendo um Pavel Pavlovitch, ou vai acabar não pegando mulher alguma.

Matheus Augusto

Matheus Augusto da Cruz, acadêmico de medicina da Unidep, dono das páginas Aletheia, no Facebook e @apriorialetheia, no Instagram