O tempo passa, mas ninguém aprende
Reino Unido já interna 100 crianças por semana com síndrome rara pós-Covid
@flaviopediatra
Recebi hoje incontáveis directs com essa reportagem aterrorizante sobre o aumento dos casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica no Reino Unido.
Em cada linha dos directs, medo e desespero.
Eu já escrevi posts sobre o tema, fiz lives, expliquei cada detalhe. Tenho a impressão que falei para as paredes.
Ele é uma nota à imprensa da Dra. Liz Whittaker, chefe da divisão das doenças infecciosas do Colégio Real de Pediatria e Saúde Infantil do Reino Unido, publicada no dia 05 de Fevereiro, que resumirei abaixo, por ser extensa:
“Os números precisam de contextualização.
Estima-se que a incidência da SIMP seja em torno de 1/5000 casos de COVID-19, evoluindo em um espectro, no lado mais grave podendo levar à quadros graves que requerem internamento em UTI.
No Reino Unido, estimamos que o PICO de admissões ocorreu na última semana e na maior parte do país OS NÚMEROS ESTÃO CAINDO.
No pico, 12-15 crianças foram internadas diariamente, POR ALGUNS DIAS. MAIS DE 60% NÃO TINHA QUADRO GRAVE.
Durante o mês de Dezembro, o sistema de saúde se preparou para um esperado aumento de casos de SIMP, que prevíamos acontecer após a onda de infecções que estavam ocorrendo. Com isso, leitos hospitalares pediátricos e de terapia intensiva foram preparados e equipes treinadas para o reconhecimento e tratamento precoce dos pacientes. NÃO NECESSITAMOS DO NÚMERO DE LEITOS QUE TEMÍAMOS.
Não há sinal que A NOVA VARIANTE RESULTOU EM QUADROS MAIS GRAVES, nem NÚMEROS MAIORES DE SIMP, graças a Deus.
A doença incide desproporcionalmente em grupos étnicos específicos, o que reforça a possibilidade de um componente genético”.
Só faço uma pergunta para finalizar: qual a intenção da imprensa em trazer a notícia incompleta e não buscar esse tipo de informação complementar que mostrei acima?
MATÉRIA QUE SAIU NA IMPRENSA
Reino Unido já interna 100 crianças por semana com síndrome rara pós-Covid
Mais de 100 crianças já estão indo parar nos hospitais do Reino Unido a cada semana com uma síndrome rara que está aparecendo em alguns dos pequenos pacientes semanas após serem infectados por coronavírus, de acordo com informações do jornal britânico The Guardian.
Trata-se da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), um conjunto de reações do sistema imunológico que já havia aparecido em crianças durante os primeiros meses da pandemia no Reino Unido e que, agora, após o país assistir a um novo aumento recorde dos casos, voltou a acontecer com maior intensidade.
Os sintomas mais comuns são febre persistente de até 40 graus, dores abdominais, pressão sanguínea muito baixa e manchas na pele. Em casos mais graves, podem evoluir para uma infecção generalizada.
Muitos médicos chegaram a achar, no início da pandemia, que se tratava da também rara doença de Kawasaki, quadro inflamatório grave semelhante que aparece geralmente em bebês e crianças de até cinco anos. O avanço das estatísticas, porém, permitiu concluir que se trata de uma condição nova e diretamente ligada ao coronavírus.
As reações aparecem cerca de um mês depois de a criança ter contraído Covid-19, independentemente de ter tido uma versão grave ou leve e assintomática da doença. Além disso, quase quatro a cada cinco crianças que tiveram a síndrome não tinham condições preexistentes e eram saudáveis.
A estimativa é que uma a cada 5 mil crianças tenha desenvolvido a nova síndrome após contrair Covid-19 no Reino Unido. Embora a proporção em relação ao total de infectados pelo vírus não esteja aumentando, o número de internações de pacientes com os sintomas está crescendo.
Especialistas consultados pelo Guardian estimam que, na primeira onda, em março, cerca de 30 crianças eram hospitalizadas por semana por conta da SIM-P. Hoje, o número está por volta dos 100.
Mais comum em minorias
O que tem intrigado os médicos é que a grande maioria das crianças que adquirem a síndrome está vindo de grupos sociais minoritários e mais frágeis do Reino Unido.
Estatísticas coletadas pela infectologista Hermione Lyall, especialista em doenças infecciosas infantis do centro de pesquisas da Imperial College e da rede pública de saúde do país (NHS), mostraram que, de 78 crianças que tiveram a síndrome, 47% eram afro-caribenhas e 28% a asiáticas. Na população total, esses grupos representam perto de 14%.