Casos de câncer de próstata no mundo podem aumentar em 80% até 2040
Os dados de incidência e mortalidade por câncer de próstata no Brasil são alarmantes – excluindo o câncer de pele não melanoma, o câncer de próstata é o mais incidente nos brasileiros, e a segunda causa de morte por neoplasia nos homens. E um dos fatores que contribuem com esse cenário é a falha na detecção precoce da doença, especialmente no caso de pacientes brasileiros no sistema público de saúde – é o que aponta uma investigação conduzida pelo Instituto Vencer o Câncer (IVOC), com patrocínio da Bayer, entre novembro de 2019 e julho de 2020, chamada de Leitura Estratégica Integrada (LEI).
O estudo, que levantou dados sobre o atual cenário do câncer de próstata no Brasil e a linha de cuidado do paciente que está no sistema público de saúde, tem como objetivo auxiliar instituições da área, poder público, sociedades médicas e outras organizações no desenvolvimento de iniciativas que contribuam com a melhora desse cenário.
“Apesar de muitos esforços no desenvolvimento de políticas públicas e estratégias, a mortalidade por câncer de próstata continua crescendo no decorrer dos anos, e isso não pode ser ignorado. É momento de rever tudo o que foi feito até agora e identificar o que precisa ser melhorado e/ou adaptado. Enquanto essa revisão é feita, mais pacientes são diagnosticados tardiamente ou perdem a vida para a doença”, destaca Dr. Fernando Maluf, fundador do IVOC.
Rodolfo Ferreira, diretor de Oncologia da Bayer Brasil, complementa: “o apoio para a realização dessa leitura aprofundada sobre o câncer de próstata no país está em linha com o nosso propósito, já que os dados são essenciais para a construção de melhores políticas públicas, que poderão dar soluções em escala para problemas de saúde, como o acesso tanto à informação como a serviços e medicamentos inovadores. Isso contribuirá com avanços no sistema de saúde, além de trazer um impacto positivo na vida de milhões de pacientes e familiares que enfrentam o câncer”.
Quem corre mais risco?
Histórico familiar, alterações genéticas, obesidade, sedentarismo, tabagismo e principalmente a idade são importantes fatores de risco para o câncer de próstata. De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), cerca de 60% das mortes pela doença se concentram entre idosos de mais de 75 anos e 38% entre adultos e idosos de 55 a 74 anos. Juntas, essas faixas respondem pela quase totalidade das mortes (98%). “Por isso, a recomendação é que o acompanhamento médico e a realização de exames sejam feitos a partir dos 45 anos para homens que apresentem fatores de risco, e a partir dos 50 para os demais, contribuindo para uma possível detecção precoce”, explica. Caso contrário, o cenário tende a piorar, já que os idosos (60+) representam 12,4% da população masculina brasileira atual e, até 2030, passará a representar 16,9%; além disso, mais da metade da população tem excesso de peso e a obesidade alcançou a maior prevalência em adultos nos últimos treze anos, segundo o MS.
“Importante dizer que apesar do grupo de risco ser essencialmente de idosos, é preciso atenção também à mortalidade prematura por câncer de próstata, pois esse é um indicador que contribui para o monitoramento do impacto das políticas públicas na prevenção e no controle da doença e seus fatores de risco”, pontua Dr. Maluf.
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) alerta que a raça negra é também um importante fator de risco para a doença, o que é enfatizado por estudos internacionais. De acordo com uma pesquisa da American Cancer Society, a incidência e mortalidade por câncer de próstata em homens negros dobram em comparação com os índices em homens brancos nos Estados Unidos. “Apesar de não existirem estudos concretos sobre o tema no Brasil, sabemos que isso é também uma realidade no país. E essas taxas desproporcionais têm relação direta com a desigualdade social – ou seja, menor renda e acesso à saúde, o que dificulta a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado para homens negros”, destaca.
Quanto antes diagnosticado, melhor
Além da prevenção, não é novidade que o diagnóstico precoce aumenta significativamente as chances de cura dos pacientes. Mas o aumento na incidência e mortalidade da doença no Brasil e no mundo pode ser um indicativo de que isso ainda não acontece em grande parte dos casos. “A dificuldade na redução da mortalidade por câncer de próstata pode estar relacionada à concentração de casos diagnosticados no estádio IV, por exemplo, quando os pacientes têm apenas 30% de chance de viver por mais 5 anos”, explica o médico.
De acordo com a LEI, em 2017, a maioria dos casos de câncer de próstata no Brasil foram diagnosticados no Estádio II (55,5%), seguido pelo estádio IV (17,6%). O percentual de diagnósticos no estádio I no Estado de São Paulo (13,4%) é menor do que a média nacional (15,3%). Por outro lado, os diagnósticos em estádios mais avançados (estádios II e IV) é menor no Estado (31,0%) comparado com o Brasil (36,2%).
Outro dado que mostra essa concentração de diagnósticos em estágios mais avançados é o crescimento, nos últimos anos (de 2009 a 2018), de 44,4% no número de hospitalizações por câncer de próstata no SUS, com uma média de mais de 7 mil internações por ano. Semelhante ao perfil nacional, no Estado de São Paulo, 93,6% das internações ocorre entre adultos e idosos de 55 anos e mais, sendo que a concentração é maior entre 60 a 74 anos de idade (59,7%) (2018).
“A falta de conhecimento tanto sobre a doença em si e quando o acompanhamento médico deve ser iniciado, como sobre os riscos que esse diagnóstico tardio pode trazer à saúde, é um dos fatores impeditivos da detecção precoce. Em paralelo, quando falamos do sistema público de saúde, sabemos que ainda há uma demora no agendamento de consultas médicas e um gap no rastreamento. A ideia do nosso estudo é justamente rever todos esses pontos e identificar o que podemos fazer para melhorar essa situação e salvar a vida desses pacientes”, pontua Dr. Fernando Maluf.
O que vem depois do diagnóstico?
Existem, atualmente, diferentes opções de tratamento para a doença, que dependem do estágio e outros fatores individuais do paciente, podendo variar de cirurgia, radioterapia, quimioterapia e medicamentos. O médico é responsável por orientar o paciente sobre a opção ideal de acordo com seu perfil.
Entretanto, a LEI traz também um alerta nesse sentido: apesar da variedade de tratamentos, é necessário que os pacientes tenham não só acesso, mas sejam tratados rapidamente após o diagnóstico, especialmente em estágios mais avançados. Uma análise trazida pelo estudo mostra que o tempo médio entre o diagnóstico e o primeiro tratamento é de cerca de 82 a 88 dias no Estado de São Paulo, por exemplo. Nesse período, o sucesso do tratamento e qualidade de vida do paciente podem ser comprometidos.
“A linha de cuidado do câncer de próstata deve representar um atendimento contínuo de assistência ao homem, composto por ações de promoção, prevenção, rastreamento, diagnóstico, tratamento e cuidados paliativos. Ela permite fluxos de atendimento seguros e garantidos ao paciente e deve servir de guia para orientar quais são os procedimentos mais efetivos no controle e no tratamento da doença e quais são as áreas responsáveis no processo de assistência. Se uma etapa dela não funciona de forma satisfatória, todas as demais são comprometidas”, destaca.
Atualmente, é cada vez mais importante tratar o câncer pensando não só na cura, mas em como controlar o seu desenvolvimento, e a medicina se mostra cada vez mais capaz de fazer isso, assim como já acontece com as doenças crônicas. Hoje, já existem linhas e opções de tratamento altamente evoluídas, que trazem resultados melhores, para cada estágio da doença. “Nossa luta é que cada vez mais os pacientes tenham acesso à linha completa de cuidado e a essas inovações, para que vivam melhor e por mais tempo”, conclui Dr. Maluf.