INSÔNIA PRODUTIVA
INSÔNIA PRODUTIVA
(Cleusa Piovesan)
Eu ouço a sinfonia da natureza
Eu vejo com o olhar da poesia
A coceira no cérebro cria beleza
Eu sinto arrepios na pele
Eu externalizo minhas emoções
A magia da poesia me impele
Eu nunca faço ouvidos moucos
Não me escondo dos socos da vida
Sou a voz entre os santos e os loucos
Ouço o piar das corujas vigilantes
O arrulho das rolas me encanta
Os grilos cricrilando, ambulantes
Ouço gatos à procura de namorada
O cão que está de guardião, alerta
A chuva mansa na madrugada
Estão sempre em pé minhas orelhas
Eu sofro por não ver mais vagalumes
E lamento a extinção das abelhas
Eu não sinto mais o cheiro da mata
Eu choro por uma árvore cortada
Ou se não ouço o murmurar da cascata
Eu não roubo uma flor nos jardins
Me alimento de paisagens de outrora
O sertão já não tem mais confins
Eu transito entre as estações
Meus solstícios não tem hemisférios
Meu embate é entre razão e emoções
A insônia é minha companhia
Eu me inspiro no silêncio da noite
E me inquieto a esperar luz do dia
Eu pressinto um futuro sombrio
E escrevo em busca de eco
Sou poeta em escaldante estio
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Cleusa Piovesan – Doutoranda em Letras, Mestra em Letras, com graduação em Letras – Português/Inglês e em Pedagogia; organizadora de dois livros com alunos, e 12 obras de autoria própria; tem participação em mais de 50 antologias e coletâneas; é Acadêmica do Centro de Letras do Paraná, da Academia Brasileira de Letras e Artes Minimalistas, da Associação Brasileira de Poetas Spinaístas, e do Centro de Letras de Francisco Beltrão.