ESPÉCIE ADULTERADA
ESPÉCIE ADULTERADA
(Cleusa Piovesan)
Corrói-me os ossos
Borbulha-me o sangue
Saltam-me as pupilas
Ruboriza-se minha face
Agita-me a mente
Palpita-me o coração
Revolto-me
E estou estanque
IMPOTENTE
Homofobia
Misoginia
Racismo
E essa pandemia
Não rimam
Com alteridade
Com resiliência
Distoam do quadro social
Que quero pendurar
Na galeria de minha memória
SURREAL
Vejo um registro ilegítimo
Uma certidão falsificada
Da humanidade
Espécie adulterada
Projeto inacabado
Em mãos de arquiteto incompetente
Rascunho do que se chamaria
GENTE
Paisagem humana
Desbotada pelo tempo
Jogada em imundo porão
Por onde passa fétido esgoto
É a podridão humana
Fede e desintegra-se
Destituída de essência
Apenas esboço do que deveríamos
Batizar de VIDA
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Cleusa Piovesan – Doutoranda em Letras, Mestra em Letras, com graduação em Letras – Português/Inglês e em Pedagogia; organizadora de dois livros com alunos, e 12 obras de autoria própria; tem participação em mais de 50 antologias e coletâneas; é Acadêmica do Centro de Letras do Paraná, da Academia Brasileira de Letras e Artes Minimalistas, da Associação Brasileira de Poetas Spinaístas, e do Centro de Letras de Francisco Beltrão.