ANTÔNIMOS

ANTÔNIMOS
(Cleusa Piovesan)

Todas as verdades ainda não foram ditas,
E nem todas as mentiras foram reveladas;

Todas as palavras são sempre benditas,
Mas muitos pensamentos são amaldiçoados;

Todos os acertos são tão bem vistos,
Mas nem todos os erros são perdoados;

Todos os pecadores são arrependidos,
Todavia, muitos inocentes são sacrificados;

Todos os golpes já foram deferidos,
Mas houve nocautes que não foram dados.

Santo e pecador são absolvidos,
Ao equilibrar a nobre balança,
Onde a justiça está de olhos fechados.

Nenhuma criança é mais inocente,
E todos os adultos serão condenados;

Não há mais um jovem com força na mente,
E todos os velhos estão debilitados;

Já não há o sábio que veja à frente,
Só o ignorante que vive no passado;

Ninguém tem tutano para enfrentar a vida,
Mas há o covarde, bem acomodado;

E não há revolta ou sequer mudança,
Onde o povo vive, sempre, alienado.

Patrão e mendigo pagam essa conta,
No final das contas, ao lançar os dados.
Quem limpou a mesa? O mais abastado!

Só há o poder do tal vil metal
Nessa sociedade que vive de quimeras.

E a horda de mendigos vai pelas calçadas,
Quando o ideal está perdido, a utopia impera.

E os transeuntes fingem que não veem,
Levantou-se muros e cobriu-os de hera;

É a hipocrisia que está camuflada,
E a turista passa em seu andar de pantera,

Longe dos excluídos, dos que incomodam,
Que vivem à margem do que o progresso gera.

Megalomaníacos, os cidadãos abordam,
São reféns na fila ou na condução,
Vivem sob o medo. Mais o que se espera?

Nos altos escalões há a corrupção,
Ocultou-se a ética e criou-se a guerra.

Mas a impunidade vai a passos largos,
Às vistas da lei que não julga ou berra.

E assim, o povo vai sendo aniquilado
Já não se acredita numa nova era,

Não há mais a “luz no fim do túnel”
Só o trem do poder, que vem e atropela.

Vê-se a descrença e a insegurança
Não há um futuro que valores gera.

E o bem e o mal já são só anônimos,
Em um dicionário que ninguém mais lê;
Não pensa, não ouve, não fala e não vê.
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Cleusa Piovesan – Doutoranda em Letras, Mestra em Letras, com graduação em Letras – Português/Inglês e em Pedagogia; organizadora de dois livros com alunos, e 12 obras de autoria própria; tem participação em mais de 50 antologias e coletâneas; é Acadêmica do Centro de Letras do Paraná, da Academia Brasileira de Letras e Artes Minimalistas, da Associação Brasileira de Poetas Spinaístas, e do Centro de Letras de Francisco Beltrão.