POEMA

DE PASSAGEM… SEM (RE)VOLTA
Cleusa Piovesan

Sem passado… tudo a limpo
Mortos expurgam males
Reis postos ressuscitam
Súditos estão sempre de plantão

Em cova rasa repousam erros
Nas profundezas do etéreo esvanecem
De presente a in_glória eterna

Ídolos de barro estilhaçam-se
Colar os cacos não faz sentido
Disformes percepções nem aparecem…

Mais um a decorar paredes
Mais um a dar nome a ruas
Ao asilo ou ao motel… tanto faz
Um busto numa praça qualquer
Referências que se tornam banais

Buscarão descanso… sem paz
Estarão à direita ou à esquerda
De um Deus que faz vista grossa?

Cérbero não viu sua passagem
Sequer rosnou… aninhou-se
Sonha… à espera dos ossos

Caronte largou os remos da barca
O peso dos pecados do mundo nos ombros
Um cochilo em milênios

Hades e o Anjo deram trégua
No lusco-fusco… nem sombras
E nem é ano de Olimpíada…

Os que ainda têm olhos… fecham-nos
Não vale a pena a contestação
Na memória do povo… que memória?



Cleusa Piovesan – Doutoranda em Letras, Mestra em Letras, com graduação em Letras – Português/Inglês e em Pedagogia; organizadora de dois livros com alunos, e 12 obras de autoria própria; tem participação em mais de 50 antologias e coletâneas; é Acadêmica do Centro de Letras do Paraná,  da Academia Brasileira de Letras e Artes Minimalistas, da Associação Brasileira de Poetas Spinaístas, e do Centro de Letras de Francisco Beltrão.