Bráulio fez um rancho

Cleusa mudou-se para Francisco Beltrão há dois meses e ficou encantada com as belezas da região e a grande variedade cultural que o nosso País possui. Viveu muitos anos na Paraíba, agora, por motivos profissionais, resolveu acompanhar o marido e construir uma nova história em nossa região.

Depois de alguns dias, ela logo encontrou um emprego numa loja de confecções, como já tinha experiência foi fácil conquistar os clientes. Bráulio já era da cidade, conheceu Cleusa numa viagem, o amor foi tão intenso que ela veio com a bagagem.

Ele ocupava um excelente cargo numa empresa automotiva; saía do trabalho às 18h30mim, passava buscar sua amada, e juntos iam para casa, mas naquele final de tarde foi diferente, algo fez Cleusa ficar apreensiva quando recebeu a seguinte mensagem do seu namorado.

“Amor, vou me atrasar um pouco, vou fazer um rancho para nós”

Ela sonhava em passar a vida com ele, largou tudo para acompanhá-lo, mas não imaginava que as condições estavam tão difíceis, antes dela tomar uma decisão tão importante como mudar de Estado, conversaram sobre tudo, inclusive sobre finanças, jamais imaginaria a hipótese de morar num rancho.

Bráulio lhe garantiu que estava ganhando bem e que em breve comprariam um apartamento, não um rancho. Como ela iria morar num rancho? Seria na beira do rio? Meu Deus! Era numa favela? Ela o amava, no entanto, essas preocupações a atormentavam e não sabia o que fazer para sair dessa situação.

Quando Bráulio chegou, ele logo percebeu a sua aflição.

— Cleusa, você está bem?

Ela resolveu expor os seus medos.

— Meu amor, sei que o aluguel está caro, que é difícil iniciarmos uma vida juntos, mas tenho medo. Aliás, estou apavorada.

— Com o que você está preocupada?

— Bráulio, eu posso encontrar mais um emprego, podemos diminuir os gastos, não quero ser assaltada, violentada, viver com a porta trancada numa favela. Não preciso de luxo, quero ter uma família e dependendo do lugar que vivermos nossos filhos podem ser influenciados por pessoas ruins. Eu gosto do nosso apartamento e não quero me mudar. Desculpa Bráulio, mas não consigo nem imaginar a possibilidade de perder minha casa numa enchente.

— Cleusa, não estou entendendo. Sobre o que você está falando?

— Estou falando sobre o rancho que você disse que ia fazer para nós.
Bráulio não conseguiu conter as gargalhadas. Naquele instante, ele não disse nada, a barriga doía de tanto rir. Pegou nas mãos de Cleusa e a levou até a parte detrás do carro, abriu o bagageiro e disse:

— Meu amor, aqui está o rancho.

— O que?

— Sim, meu bem. Aqui no Paraná quando as pessoas vão ao supermercado fazer compras, elas dizem que vão fazer um rancho.
Os dois riram juntos e no dia seguinte, uma paraibana iniciou uma pesquisa sobre regionalismos.

Joceane Priamo

Joceane Priamo nasceu em Francisco Beltrão-PR, em 23 de maio de 1988. É formada em Letras Português e Literatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e Pedagogia pela Faculdade Campos Elíseos (FCE), pós-graduada em Docência no Ensino Superior, Antropologia, Educação Especial e Intelectual. Em março de 2021, lançou seu primeiro livro, Francisco Beltrão entre Versos e Sonhos. Participa da coordenação da Via Poesis e como membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão, é professora, escritora, poetisa e cronista.