CRÔNICAS

A imagem que vendemos

Não existe um ser humano na face da terra que nunca teve que vender, comprar ou trocar algo. Nesta gigante loja da vida, tudo tem um valor. Aqui, vende-se as mais variáveis infinidades de coisas estranhas que podemos imaginar, peças desnecessárias, que vão desde roupas para hamsters,desapegos de defuntos, dentaduras usadas, porções de grilos, diplomas falsos e os segredos para manter a juventude. Há aqueles que investem fortunas para mudar o próprio corpo e os que pagam para usar um corpo, há preço por uma vida, e também, quem vende a própria alma. Comercializamos até aquilo que a natureza fornece de graça, não importa se é água da chuva, se a casca da caneleira está em rua pública ou se o esterco é do peru, praticamente, pagamos por tudo,e há lugares tão poluídos no mundo que já foi criado bares de oxigênio, ou seja, pagamos até para respirar.

As famílias mais tradicionais tentam manter alguns objetos de valor e também alguns valores por várias gerações, a intenção é para manter o vínculo com os antepassados e reviver a cultura  do seu povo, mas um dia alguém pode não dar tanta importância ao costume antigo, o colar de rubi pode cair em mãos erradas, e alguém que talvez nem pertença à família romperá o círculo energético, assim como, a casa e o carro que trabalhamos a vida inteira para conseguir, um dia pertencerão a novos proprietários que apagarão as antigas memórias.

Quando falo de vendas, não me refiro somente aos objetos, nós nem percebemos, mas vendemos o abstrato muito mais do que o concreto. Diariamente,ofertamos uma imagem que nem sempre condiz com nosso ser interior, trocamos emoções, colecionamos lembranças, guardamos sentimentos que alegram, amedrontam, decepcionam, isso, porque depende do que cada um tem a oferecer e da forma como encararmos as experiências do mundo.Fizemos acordos com apertos de mãos que se desfazem com facilidade, rompemos contratos com quem tínhamos grande estima, amizades se destroem por interesses e até familiares viram caloteiros. Às vezes pagamos um preço alto por confiar nos outros. Diante da inocência, trocamos seis por meia dúzia, compramos gato por lebre, e, somos enganados por quem menos imaginamos, pois, no mundo das vendas e das trocas, o que a maioria procura são as vantagens dos negócios.

Percebemos que muitas coisas que adquirimos se destroem rapidamente, não temos mais bens duráveis, tudo é produzido para ter uma validade curta. Até as relações interpessoais estão assim, nós fazemos a nossa própria propaganda, sempre queremos causar uma boa impressão, construímos uma imagem perfeita, principalmente, no mundo virtual, mas o tempo passa, e ele é quem define o valor de um produto e de uma pessoa, são poucos que conseguem manter o padrão de qualidade.Vendemos e compramos, consumimos e desperdiçamos, erramos e acertamos e o que visamos é algo que supra nossos interesses pessoais.O lucro pode se perder com facilidade, o que não se desfaz é a honestidade, está é a marca que define quem realmente somos.

Joceane Priamo

Joceane Priamo nasceu em Francisco Beltrão-PR, em 23 de maio de 1988. É formada em Letras Português e Literatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e Pedagogia pela Faculdade Campos Elíseos (FCE), pós-graduada em Docência no Ensino Superior, Antropologia, Educação Especial e Intelectual. Em março de 2021, lançou seu primeiro livro, Francisco Beltrão entre Versos e Sonhos. Participa da coordenação da Via Poesis e como membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão, é professora, escritora, poetisa e cronista.