CRÔNICAS
Briga de casal
Casais brigam pelos mais variados motivos: ciúmes, por esquecer os compromissos, afazeres domésticos, divergências de opiniões, por deixar roupa jogada no chão, não dar a descarga, chegar atrasado e muitas outras situações em que é impossível determinar quem tem razão. Quem nunca ouviu a frase “Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”, quando duas pessoas decidem compartilhar uma vida juntas, cabe a elas resolverem suas divergências.
Dona Teodora cresceu ouvindo esse ditado, viveu 48 anos ao lado de Seu Sebastião. Ele foi o seu primeiro namorado e durante os atritos, procuraram resolver os desentendimentos com diálogo, sem envolver outras pessoas. Agora, ele desfruta o paraíso ao lado do criador. Ela ainda segue a vida terrena, cuida da casa, aproveita a aposentadoria, faz tricô, ginástica e doces para vender. Todo mês, ela tira alguns dias de folga para visitar seus doze filhos.
Num de seus passeios, Mariana, sua neta mais velha, relatou que os relacionamentos mudaram bastante e hoje em dia as mulheres não são como antigamente. Os casamentos não duram para sempre, as mulheres não vivem mais a serviço do lar, os homens não são os únicos responsáveis pelo sustento da casa. A maioria é independente, acorda cedo para trabalhar, por isso os casais precisam dividir as tarefas domésticas, as finanças e os cuidados com os filhos.
Sua neta é uma lutadora, defende várias causas feministas. Ela acrescentou que o próprio ditado popular mudou, hoje as pessoas se intrometem na relação dos outros, visto que, muitas mulheres sofrem violência doméstica e são agredidas pelos seus companheiros. Explicou que quando passam por maus tratos, elas podem buscar ajuda e também denunciar os agressores.
Dona Teodora teve seu companheiro por tantos anos e nunca soube o que era Violência no lar. Seu amado Sebastião (que Deus o tenha) sempre foi amoroso. Casaram bem jovens, ele com 18 e ela com 15 anos, desde que decidiram namorar tiveram uma vida de respeito. Viveram longos anos de união, até que um dia a morte os separou.
Ficou assustada, ouvindo sua neta contar sobre os maus tratos que acontecem nas relações. Ela ainda mantinha viva a ideia que se duas pessoas querem ficar juntas deve ser porque se amam, e não para exercerem poder uma sobre a outra. Dona Teodora queria acompanhar a evolução dos tempos modernos. Afinal, ela acreditava no sentimento mútuo, estava apenas com sessenta e quatro anos, tinha boa genética e muita saúde para viver, precisava se atualizar porque nunca se sabe quando um novo amor pode chegar.
Quando as férias terminaram, Dona Teodora voltou para sua cidade cheia de conhecimento. Chegou em seu apartamento, desfez as malas, tomou um banho, fez uma xícara de chá, assistiu à missa do padre Alessandro, de repente ouviu uma gritaria do apartamento acima. A mulher gritava: pare! Não me mate! O homem dizia: você vai me pagar pelo que fez! Lembrou do que sua neta lhe ensinou sobre os relacionamentos destrutivos, passou a mão no telefone e, imediatamente, ligou para a polícia, relatando um caso de violência doméstica, não se conformando com a gravidade da situação, pensando que a mulher pudesse estar ferida, aproveitou e ligou para os bombeiros.
Em apenas quinze minutos o prédio estava cercado, todos os condôminos foram acordados pelas sirenes, inclusive o morador que estava brigando ficou surpreso com a movimentação. A campainha tocou e o homem do apartamento superior foi detido por agressão. Dona Teodora deu um suspiro de satisfação, pois fez uma boa ação e aquela mulher não sofreria mais. Ele alegou que a intromissão da vizinha era um mal-entendido, que ela se confundiu. Disse que há poucos dias ele e sua esposa haviam se mudado para o local, eles eram artistas e estavam ensaiando uma peça de teatro. A mulher estava em choque, com o pescoço machucado e a blusa rasgada. Hoje, o artista valentão vive fazendo espetáculos na prisão.