CRÔNICAS

Você sabe dizer não?

É uma alegria ser útil para as pessoas e poder ajudá-las no momento em que precisam de amparo. Praticar boas ações faz bem e traz muitos ensinamentos para quem está contribuindo. Esse ato aumenta a conexão com o outro e proporciona um sentimento de empatia. No entanto, quando você nega algo para o próximo, consegue dizer não sem sentir culpa?
Quantas vezes você já disse sim com o desejo de dizer o contrário? Já fez algo contra vontade, apenas, por obrigação? Prestou um favor para agradar alguém e acabou sendo prejudicado? Concordou com algo para não se estressar? Ficou com o coração inquieto depois de se comprometer com uma ação que não teve saída? Realizou o desejo de um amigo, e deixou de lado as suas prioridades pela dificuldade em recusar?
Há muitas pessoas que vivem um impasse com essa palavra tão pequena, que gera um enorme constrangimento ao usá-la, devido a ideia de magoar alguém. Normalmente, aqueles que não aprenderam a dizer não sentem culpa e começam a fazer acusações a si mesmos. Nessa hora, surgem as discórdias emocionais, aparecem os pensamentos que aprisionam as próprias ações, e o temor do que pode acontecer no futuro se não ajudar aquela pessoa.
Ninguém consegue controlar tudo à sua volta. Ações como ceder, apoiar, facilitar devem fazer parte do nosso dia a dia. Entretanto, todo auxílio deve gerar bons sentimentos. Suas decisões devem ser baseadas na interpretação da realidade em que você vive. O “não” faz parte da vida, é uma escolha, deve ser dito sem rodeios, sem medo, sem tantas justificativas.
Quando educa-se uma criança e diz que o não é para o bem dela, é porque sabe-se que isso é importante para o desenvolvimento, pois uma criança que cresce sem limites, vai ser possivelmente, um adulto frustrado, e, não saberá lidar com nada que o contrarie. Dizer não para alguém que amamos, quando temos certeza que é justo, é um ato de amor por si e pelo outro, pois ensina a lidar com o mundo e suas frustrações.
A situação não se refere a um não autoritário, conveniente ou vingativo, mas a um ato de sinceridade. Se alguém lhe pedir algo emprestado e você não sente confiança, apenas diga: sinto muito, mas não gosto de emprestar. Se alguém insiste em lhe vender algo, e você não deseja comprar, não sinta vergonha em dizer que naquele momento não quer adquirir o produto. Caso alguém lhe abordar na rua para pedir uma doação e você não tem condições, não se sinta mal por não conseguir ajudar. Você deve fazer o que pode, no momento em que tem condições e disponibilidade.
Até nos contos de fadas existe um equilíbrio entre aceitar e renunciar, o Aladim que possuía a lâmpada mágica, colocava limites ao conceder os desejos às pessoas. Então aprenda a dizer não, sem a preocupação que a tua atitude pode desagradar ou ofender. Nada adianta criar um personagem, que faz tudo pelo outro, sem sentir prazer, pois aí você desaponta a si mesmo. Não fique ansioso e aflito com a reação porque se alguém ficar chateado contigo, e não compreender a sua decisão, é um problema que o outro tem que resolver e não você.

Joceane Priamo

Joceane Priamo nasceu em Francisco Beltrão-PR, em 23 de maio de 1988. É formada em Letras Português e Literatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e Pedagogia pela Faculdade Campos Elíseos (FCE), pós-graduada em Docência no Ensino Superior, Antropologia, Educação Especial e Intelectual. Em março de 2021, lançou seu primeiro livro, Francisco Beltrão entre Versos e Sonhos. Participa da coordenação da Via Poesis e como membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão, é professora, escritora, poetisa e cronista.