CRÔNICAS
Devaneios na mesa do bar
De acordo com o significado da vida, bar, também conhecido como boteco, é um lugar onde nascem muitas histórias. Ali, o mundo gira, vidas mudam, projetos são iniciados e muitas vezes finalizados. Comemorações e lamentos fazem companhias ao espaço. Vários assuntos, discussões, teorias são colocadas à mesa.
Trocam-se olhares, palavras e drinks. Erguem-se os copos, aumentam-se as vozes, elevam-se os ânimos.
O local é apropriado para descontrair e desfrutar o momento. Por algumas horas, diversas pessoas desejam não pensar na vida com tanta seriedade. No entanto, após um, dois, três copos, a conversa flui com mais leveza e até os cálculos matemáticos indecifráveis parecem ter uma solução generosa.
Os enigmas da vida noturna têm atrações que seduzem os sobrecarregados, ou até mesmo, aqueles que andam à toa na vida. A música do ambiente é convidativa, não é alta para ensurdecer, nem baixa para passar despercebida. Os cheiros dos aperitivos não ficam para trás, beliscos e bebidas sempre tiveram uma boa combinação, e se um amigo estiver presente, as horas correm maratona.
Os perfis da clientela não seguem nenhum padrão, mas como todo bom lugar, alguns espetáculos sempre estarão presentes, pois não poderão faltar diversões para aqueles que atendem com sobriedade.
É certeiro que haverá alguém numa fase difícil, que vai desabafar com o garçom ou com algum estranho os seus longos devaneios filosóficos e contará a crueldade de sua vida mal resolvida.
Com certeza, aparecerão patrões ou funcionários que culparão uns aos outros pelos estresses do trabalho, cansados dos compromissos, apontarão os motivos que lhes roubaram a energia.
Um dia chegará um desconhecido que quer aprender a beber, pois, busca um espaço para relaxar e deseja esquecer os problemas do dia a dia.
Não poderá faltar aquele casal apaixonado que fala baixinho para não perturbar o romance, com trocas e juras de amor bebem com modéstia para manter uma boa impressão.
Mais cedo ou mais tarde, terá alguém debruçado sobre a mesa, saboreando o amargo da solidão, embriagado com o mundo, perdido no tempo, andará de bar em bar e quando as portas se fecharem, não se importará de beber no relento da rua.
Assim como estes, existirão muitos outros, inconformados, apaixonados e embriagados, que passarão pelo local deixando suas lendas.
Já os que passam rapidamente pelo bar, logo serão esquecidos, pois, de tão breves que são, não deixarão histórias para contar.
Só aqueles que não bebem, param, analisam e observam as pessoas ao redor das mesas. Pessoas que falam, gesticulam, riem e viajam no tempo. Pessoas que no outro dia terão amnésias seletivas ou ressacas infernais.
Ah! Se as mesas falassem… Certamente, elas pediriam:
– Garçom, traz mais uma dose de óleo de peroba que estou com a cabeça cheia e a memória lascada.