CRÔNICA
Os desafios da natureza
Parado, diante de um paredão rochoso, Miguel se questionava sobre a força dos seres que querem, realmente, viver.
Sozinha no penhasco, uma frágil margarida exalava seu perfume sem temor. Não tinha nenhum ser igual a ela ali por perto. Mesmo não podendo falar, ela olhava-o como alguém que dizia não se importar com as condições do lugar. Era livre, feliz consigo mesma, e satisfeita onde estava.
Aos olhos de outros o espaço era inapropriado, mas desde pequena ela aprendeu a ser forte para suportar os atritos da vida.
Ela poderia ter nascido no conforto de um lindo jardim, mas pela força dos ventos ou por mero acaso, assim não aconteceu. Na vida, até os seres mais imperceptíveis enfrentam os seus próprios desafios. Talvez se ela tivesse brotado num lindo jardim com terra fofa e adubada a vida não teria graça, pois ganharia tudo o que qualquer flor sempre desejou, e ter tudo o que desejasse poderia trazer mais insatisfações do que prazer, senão as flores dos quintais e parques nunca murchariam.
Ali, entre pedregulhos, não seguia nenhum padrão. Simplesmente era ela mesma, uma flor, desapegada da fama e ilesa das compras ornamentais. Aprendeu a fazer daquele espaço o seu próprio paraíso e viver em sincronia com o universo.
Não se sabe qual era a verdadeira compreensão daquela flor: se via os acontecimentos como vontade de Deus, se classificava sua condição como causa e efeito, ou se chamava tudo de acaso, afinal, quem consegue responder a essas perguntas com precisão?
Depois de um longo período de observação, Miguel despediu-se da flor e foi para casa imaginando se todos os seres vivos nasciam com seu destino determinado ou se tudo era uma coincidência. Cruzou o portão, passou pelo seu enorme roseiral, cortou um maço de rosas e entregou-o a sua esposa para decorar a mesa.