Cabelo colorido da Ana Maria Braga, etarismo e mulheres maduras cheias de estilo
Chega um momento da vida em que você percebe que suas referências de estilo deixaram de ser a jovens moças repletas de colágeno para mulheres maduras repletas de autoestima.
Quem chama minha atenção e desperta um desejo de me parecer ou ainda uma inspiração para o meu próprio estilo não tem mais nada a ver com alguém muito nova, mas sim com alguém que consegue transpor no modo de se colocar visualmente no mundo com personalidade e um tanto de cara de pau.
Sabe aquela sensação de ‘não me importo mais com o que vão pensar de mim’? Sei que é uma máxima vendida como um pensamento juvenil, uma coisa meio contra tudo e todos de lidar com o mundo que parece só existir aos sub-20.
Na adolescência, por mais que demonstrássemos certo tipo de rebeldia, tudo o que mais queríamos era pertencer a algum grupo, ainda que o dos rebeldes. E era justamente esse grupo o mais excludente, no qual para fazer parte dele deveríamos deixar de lado qualquer rastro de vaidade. Se assim não o fizesse, jamais poderíamos andar junto.
Depois, no início da vida adulta, o receio era de parecer pouco profissional, não me encaixar nas regras de etiquetas sociais, corresponder ao que se espera de uma mulher atraente e mais um tanto de paranoias que fez com que a lapidação do nosso estilo passasse por muitas peneiras que pouco permitiam acessar o que de fato a gente se identificava.
Veio o tão aguardado aniversário de 30. Depois de 31, 32, 33, 34 e depois ninguém mais segurou e agora os 50. E, que saber? Não estamos mais nem aí para o que vão achar da forma como que nos vestimos. É claro que cada ocasião é uma ocasião, mas compreendo que dali pra frente o que vestimos ou a forma como nos arrumamos só tem que a agradar a nós.
A Ana Maria Braga e seus cabelos coloridos. Como não se encantar por uma mulher com mais de 70 anos, à frente de um programa de TV destinado à família tradicional brasileira, com uma super audiência e seiláquantosanos no ar que surge com cabelos cor de rosa uma semana, verde em outra, agora azul? Ana se diverte na própria pele e desafia quem acha que ela não pode mais surpreender.
“Uma mulher da idade dela”, “uma mulher que fala com a família”, “uma mulher bem sucedida”… Não houve qualquer impedimento para que ela se expressasse por meio do seu estilo. Ela perdeu credibilidade por isso? Não. Seguiu comandando seu programa com a mesma maestria com quem vem fazendo desde faz é tempo.
Deve haver quem ache qualquer coisa ruim por ela ser uma senhora de cabelos coloridos. Afinal, qualquer mulher que ouse correr contra o que se espera dela ao envelhecer será vítima de críticas. Seja qual for a geração, a mulher terá algum dedo apontado de julgamento e repressão. Esses dias a Cris Guerra fez um longo vídeo falando sobre etarismo, que é basicamente o preconceito com idade. Na ocasião, a comunicadora e escritora criticava um vídeo do Porta dos Fundos no qual uma mulher de 57 anos é considerada velha e senil.
E existe um recorte de gênero no etarismo em que a excentricidade é uma característica guardada apenas para homens e totalmente descartada das mulheres, especialmente com o avanço do tempo.
Não é preciso ir longe. Comparemos Mick Jagger e Madonna. Ambos astros da música internacional. Quem é questionado por exercer plenamente a sua sexualidade? Quem tem as suas roupas extravagantes reprovadas? Quem é questionado quando vai parar de rebolar e pular em seus shows? Quem é o tempo todo perguntado sobre quando irá se aposentar? Quem tem seus relacionamentos com pessoas mais jovens como alvo de reprovação? Poderia ir longe com a lista, mas aposto que não há Mick Jagger em nenhuma dessas respostas. Em tempo, o frontman dos Rolling Stones é ainda dez anos mais velho do que a rainha do pop.
Passando por tudo isso, reparamos então que todas essas mulheres que dispensaram as amarras impostas pela sociedade machista e se expressam lindamente por meio de seu corpo, rosto, roupas e personalidade.