Positividade na Pandemia

Sem medo da crise, pessoas se reinventam e descobrem novos caminhos para driblar os danos econômicos causados pela doença

Mayélli Carolina

Esta é a primeira matéria de uma série que contempla algumas histórias motivadoras, de moradores que se uniram, de famílias que superaram a crise, de amigos que continuam se reunindo virtualmente, de festas e encontros à distância, e o mais importante, de histórias motivadoras e cheias de esperança.

Do elevador ao acarajé

O montador Pedro “Baiano” Silva Alves saiu de Iaçu, Bahia, passou por São Paulo, e, a convite da irmã, veio para Francisco Beltrão. “Já cheguei aqui com encaminhamento de emprego e consegui me desenvolver. A recepção dos beltronenses foi muito bacana. São pessoas educadas e atenciosas. Só estranhamos o frio, já que na Bahia é muito quente (risos)”, comentou Baiano.

Sua esposa Josicleide “Josi” de Melo e a filha Hayka, vieram depois. Saíaram de Assú, RN, para abraçar a ideia que já haviam discutido há algum tempo: serem donos do próprio negócio. “Quando Pedro me chamou, ainda não sabíamos direito o que iríamos fazer. Sabíamos apenas que queríamos ter algo nosso”, destacou Josi, que hoje, é autônoma.

Depois de muitas opções aparecendo e sendo descartadas, surgiu o delivery de acarajé. “A princípio, a ideia era do meu cunhado. Como ele não levou adiante, conversei com minha esposa, alguns amigos de faculdade e encaramos de frente. Chamamos algumas pessoas para a degustação e a aceitação foi muito boa. Investimos em utensílios e produtos para melhorar a fabricação. Hoje contamos com vendas em aplicativos, grupos de whatsapp e Instagram (https://instagram.com/acarajed0baian0?igshid=1mc0oa5urgh7b) . Nossa meta futura é ter um espaço físico para melhorar as vendas, proporcionar mais conforto aos nossos clientes e fazer o Acarajé do Baiano se tornar ainda mais conhecido no mercado”, enfatizou Paulo.

Um estágio em meio a pandemia

Maurício Furtado Pereira Junior, estudante de Engenharia Ambiental, veio de Sertãozinho (SP) através do Sisu. Residindo em Beltrão há cinco anos, explica que se adaptou bem. “A primeira impressão foi boa, os moradores são acolhedores, simpáticos; diferente do pessoal de São Paulo. A cidade é bonita, organizada, com muitas oportunidades. Só estranhei o frio (risos)”.

Quando a pandemia teve início, ele decidiu voltar para SP, mas continuou mantendo contato com empresas do setor de preservação e conservação ambiental. A indicação de um amigo, lhe rendeu um estágio. “Um mês depois de voltar, comecei estagiar e encaro isso como um privilégio, é uma oportunidade única e que está agregando muito conhecimento na minha vida. Nesse tempo, recebi o convite de dois moradores para fazer entregas de alguns produtos que estavam comercializando. Após um período como entregador, infelizmente, acabou se tornando inviável pelo custo de transporte. Mesmo sabendo que era uma renda extra, decidi priorizar o estágio. Como futuro engenheiro ambiental, agarrei esse presente que irá garantir maiores habilidades e conhecimentos na minha área ”, descreveu o estudante.

Do interior para o interior

Natural de Três Rios (RJ), a estudante de Engenharia Química e empresária, Luiza Lelles de Melo Oliveira está desde 2016 na cidade. Segundo ela, a expectativa de um futuro melhor e estabilidade financeira foram os motivos que a levaram dar esse salto. Com a dica de sua mentora, a busca pela renda extra fez com que ela dedicasse seu tempo na construção de sonhos que, conforme ela, estão cada dia mais próximos da realidade. “Antes da pandemia trabalhava como garçonete freelancer em um bar. Com o dinheiro, investia na minha própria empresa de doces ( https://instagram.com/llconetrufado?igshid=14wjl8cooxyht). Mas como houve o isolamento social, fechamento de comércios e diminuição de contratados, me obriguei a agilizar o processo de formalização da minha empresa”.

Lelles criou um CNPJ MEI, realizou cadastro em vitrines virtuais, apps de comida e planilhas que utiliza para encomendas. Ela mesma produz as artes através de um aplicativo gratuito e mesmo sem ver a família há meses, não desiste de lutar. “Estamos em pé com orgulho, criatividade e insitência. Tudo depende do quanto queremos e o quanto estamos dispostos a lutar. Minha mini-fábricaé em um dos quartos do meu aprtamento, isso reduziu meus gastos e tornaram as mudanças em minha vida, significativas”, descreveu ela.

A reinvenção e a união de um condomínio

Há pouco mais de três meses, o isolamento social, o fechamento de comércios e instituições de ensino, aproximaram uma “bonita vizinhança”.

Através de um grupo de whatsapp, o condomínio iniciou conversas sobre a vida, encontros, ideias rentáveis e frustrações diárias. As trocas de redes sociais também aconteceram. Os laços se estreitaram. O “bom dia”, “boa noite” ou um simples “olá”, começou a ser algo prazeroso e costumeiro. Para Lelles, a família que construiu aqui foi muito importante. “Cresci muito como ser humano e como profissional. Só tenho a agradecer”.

Os empréstimos de utensílios, controles e rolos de papel higiênico começaram a fazer parte da vida dos cinco apartamentos. Conversas entre sacadas e encontros no portão, pareciam ter mais sentido e mais cumplicidade. “O contato entre os vizinhos é muito bacana. Temos um grupo no zap, ou apenas gritamos pelas sacadas pedindo por alguma coisa, dando um oi ou querendo uma visita. Somos uma galera muito unida e estamos sempre prontos a ajudar uns aos”, disse Baiano.

Segundo o barbeiro Alan da Rosa Guilherme, a pandemia “obrigou” as pessoas a mudar a maneira como interagem umas com as outras. “Acabei conhecendo mais a vizinhança. O convívio foi positivo. Acredito que ela foi um divisor de águas, veio de maneira decisiva para sincronizar as pessoas mais do que para afastá-las. Além de servir como um despertar de uma nova visão no mercado de trabalho”.

Guilherme, que também ministra cursos na área da beleza, reside há dez anos em Beltrão e já havia trabalhado como locutor. Quando o isolamento teve início e as pessoas precisaram permanecer em casa, ele viu que poderia obter uma renda extra com o trabalho que exercia anteriormente. “A pandemia foi um incentivo, pois a queda de movimento me obrigou a sair em busca de algo que pudesse me auxiliar economicamente em dias que eu permanecia parado”.

Para Furtado, a confissão foi que sua relação com a vizinhança era superficial, mas a pandemia aproximou o grupo. Ele e Guilherme foram os “precursores” da união. “Antes eram ‘ois’ e ‘tchaus’ na escadaria, garagem. Em uma ocasião especial, duas reuniões diferentes estavam acontecendo no prédio, então, resolvemos fazer o convite de unir todos para uma só. A partir desse dia, a integração ficou cada vez mais forte. São pessoas das quais acabamos depositando uma confiança muito grande por vivermos no mesmo lugar. Compartilhamos coisas com tranquilidade e segurança. É uma amizade interessante. Criamos grandes laços”.