ALETHEIA

Ivermectina: apelo ao remédio para o gado

Um médico em formação geralmente se dedica cerca de seis anos de sua vida em uma faculdade para poder exercer a profissão. Mais alguns anos de especialização e residência e percebe-se que, de fato, quase uma década é necessária para termos o profissional da saúde completo. Somente então, a sociedade tem em mãos alguém capaz de entender doenças, curas, fisiologias e tratamentos. O problema é que, nessa era pós-moderna, a preparação acadêmica e científica está mais do que nunca banalizada.

Estamos vivendo um período sombrio que não é novidade a ninguém. Anseia-se por uma salvação, que no caso, viria com uma possível vacina contra o covid-19. Para isso, milhares de cientista pelo mundo inteiro correm contra o tempo, fazendo pesquisas e projetos de elaboração para algum medicamento ou vacina que dê resultado na prática.

Entretanto, se não bastasse o problema da doença em si, temos também a desinformação e a mentira em circulação.

Ademais, sem nenhum estudo comprobatório da eficácia de um remédio, o Presidente do Brasil persiste em fazer merchandising a favor da hidroxicloroquina e derivados. Além disso, coube ao Chefe do Executivo a audácia de fazer propaganda de um vermífugo como remédio contra o coronavírus. É ai que entramos na ironia, em que um vermífugo de uso bovino tem sido propagado como imagem de remédio. De fato, é a salvação do gado, como queira entender.

Falando sério, isso é inacreditável. Remédios são testados rigorosamente, obedecendo protocolos de segurança e ética para que se valide sua eficácia. Nem a cloroquina, muito menos o vermífugo ivermectina, foram testadas para que se comprovasse sua eficiência. É desolador ver, com isso, um líder nacional propagar ideias furadas, anticientíficas e inúteis à sociedade.

É por isso que quando falarem que o Presidente é genocida, não ache exagero. Ele teve recursos para comprar respiradores para UTI’s, que seguramente seriam mais bem usados na luta contra essa doença. Todavia, a Máxima Expertise achou melhor torrar a verba com o Exército Brasileiro na produção de cloroquina. Sim, ele é um genocida. Se alcançamos a marca de noventa mil óbitos, é porque tivemos negligência, ou pior, incompetência administrativa.

Nossa realidade, infelizmente, cada vez mais se torna marcada pela ignorância. A consequência barata é que meia dúzia de gados pingados se sentem representados por um genocida, enquanto a esmagadora maioria paga o pato nas UTI’s à espera de um milagre.

Matheus Augusto

Matheus Augusto da Cruz, acadêmico de medicina da Unidep, dono das páginas Aletheia, no Facebook e @apriorialetheia, no Instagram